pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: #ÉCoisaDePreto
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sábado, 11 de novembro de 2017

Editorial: #ÉCoisaDePreto





Há alguns dias publicamos por aqui uma crônica sobre o novo livro do sociólogo Jessé de Souza. Como disse antes - mas repito aqui - o livro de Jessé produz uma inflexão acerca do problema crônico das desigualdades sociais no Brasil, ao apontar que não é a corrupção endêmica o nosso maior problema, mas o longo processo de relações sociais de produção marcado pelo trabalho escravo. Somos - ainda como no passado escravocrata - uma sociedade onde o negro encontra enormes dificuldades de exercer sua cidadania. Não pretendo me alongar muito em indicadores sociais, mas basta observar o perfil do nosso sistema carcerário; a incidência de jovens negros mortos em chacinas; o índice humilhante de 13 milhões de analfabetos adultos, a maioria deles localizados aqui no Nordeste, de cor negra, mulher e empobrecida. Uma herança maldita de uma sociedade construída sob o signo do trabalho escravo.

Talvez o racismo em nossa sociedade seja mais perceptível entre os estratos sociais mais elevados, mas isso não quer dizer que esse imaginário não atinja outros segmentos sociais menos favorecidos, que também fazem uso de alguns expedientes ou expressões de cunho racistas no seu cotidiano, mesmo que não proposital. Ah, se o problema ficasse somente circunscrito à emissora do plim plim e seus cupinchas do patronato golpista! Já ouvi gente muito humilde utilizando com frequência a expressão supostamente utilizada pelo âncora daquela emissora, em vídeo gravado que circulou pela internet. A atitude do jornalista da emissora é condenável, passível de punição, mas precisamos admitir que muita coisa precisa ser mudada, uma vez que o negro é tratado como uma raça inferior até mesmo entre os pardos e mestiços de nossa sociedade. 

O imaginário racista está impregnado em nossa sociedade como um todo, assim como aquela nódoa de caju que insiste em não sair, apesar dos nossos esforços em removê-la. É um tipo de racismo institucional e, como tal, precisamos contar com o apoio decisivo do aparelho de Estado para o seu correto enfrentamento. Nos Governos da Coalizão Petista tivemos alguns avanços significativos neste sentido, depois de uma grande marcha realizada até a capital federal, por lideranças dos movimentos sociais ligados à etnia negra. Além dos avanços na estrutura do aparelho de Estado - como a criação da Secretaria da Igualdade Racial, por exemplo - tivemos, logo em seguida, a materialização desse enfrentamento, como as políticas de cotas. Como se sabe, todas essas conquistas foram completamente suprimidas logo depois do golpe institucional de 2016. A agenda regressiva suprimiu direitos e garantias constitucionais; diminuiu sensivelmente a participação dos negros na concepção e implementação de política públicas; precarizou as relações de trabalho e, por muito pouco, não reintroduziu o trabalho escravo.

Como observa matéria da revista Veja desta semana, mais uma vez ficou evidente o poder das redes sociais na formação da opinião pública. Logo depois do vídeo viralizar nas redes, surgiram as famosas hashtag com temas alusivas ao assunto, como #ÉCoisaDePreto, que alcançou o primeiro lugar no Trending Topics do microblog Twitter, sempre enfatizando as realizações de alguns negros famosos. Uma campanha, a nosso ver pueril, uma vez que, logo em seguida, surgiu a hashtag #ÉCoisaDeBranco, numa tentativa de se contrapor. O que está em jogo, na realidade, é outra coisa bem mais séria. Atos de intolerância nunca estiveram tão em alta no país, sobretudo depois do golpe institucional de 2016, que dividiu a sociedade entre aqueles que desejam o recrudescimento do golpe e aqueles que advogam a volta da normalidade democrática de forma substantiva e não apenas através das "eleições" regulares, se é que elas estão garantidas. 
 

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