pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: Paulo Freire tornou-se o alvo principal da Escola Sem Partido
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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Editorial: Paulo Freire tornou-se o alvo principal da Escola Sem Partido

 
 
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Não são incomuns os chamados linchamentos morais, sobretudo nesses momentos bicudos de crise institucional que o país atravessa. Método sórdido utilizado para isolar e "desmoralizar" opositores, os linchamentos morais e a intolerância, no Brasil, assumiram contornos inimagináveis no bojo dessa crise política ora em curso. Até recentemente, um grupo de direita organizou um protesto aqui no Recife, onde tratou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o maior ladrão que o Brasil já teve. Conforme afirmamos, em editorial anterior, a classe média foi induzida a apoiar o "impeachment" contra a ex-presidente Dilma Rousseff(PT) sob o "argumento" furado do combate à corrupção. Um pano de fundo da pior cueca - dessas vendidas pelos camelôs nas pontes do Recife - com todo o respeito aos camelôs - uma vez que os artífices desse golpe institucional estão muito mais enlameados e cometeram crimes e delitos em proporções superiores aos supostos delitos cometidos por integrantes da legenda petista. Agora, como se sabe, existe uma manobra que atenta contra as investigações da Operação Lava Jato. Os protestos, hoje, se limitam a alguns gatos pingados, que desejam atirar tomates naquele ministro da Corte Suprema.

Amaldiçoam um líder popular como o ex-presidente Lula e enaltecem figuras de proa da repressão política  instaurada no país com o golpe civil-militar de 1964. Por vezes fico me perguntando o que se passa pela cabeça desses jovens, que deveriam estar preocupados em empregar suas energias na defesa dos princípios democráticos, das liberdades civis, do Estado de Direito, da defesa do patrimônio nacional e do meio-ambiente, sob ameaça velada do grupo que tomou o poder no país. Ontem me deparei com uma sórdida campanha movida nas redes sociais contra o educador pernambucano, Paulo Freire. Paulo, em razão de sua proposta de educação libertadora e problematizadora, parece ter se tornado o alvo preferencial daqueles que defendem uma "Escola Sem Partido". Na realidade, uma escola de partido único, que suprime o debate democrático de ideias, susceptível à diversidade de opiniões e orientações sexuais.  Certamente, Paulo Freire encarna a antítese do que essa gente deseja para a educação brasileira. Daí ele ser o alvo principal dos ataques. Já andaram acusando-o até de plágio num desses sites vinculados a esses grupos.

A perseguição a Paulo Freire é típica dos tempos de obscurantismo que estamos vivendo. Por razões análogas, em 1964, ele também foi vítima desse mesmo processo, tendo que se exilar no Chile, ainda sob o Governo de Salvador Allende. Pernambucano do país de Casa Amarela - como diria o padre Reginaldo Veloso - Paulo passou a ter uma preocupação maior com o problema do analfabetismo da população adulta através do trabalho desenvolvido junto ao Movimento de Cultura Popular, um movimento criado no Estado, durante o período em que Miguel Arraes era o Prefeito da Cidade do Recife. Paulo desenvolveu um método único de alfabetização de adulto, aplicado com grande êxito na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte. O feito chegou ao presidente João Goulart que o incluiria na então proposta de Reformas de Base, com o objetivo de erradicar o analfabetismo no país. O resto da história todos conhecem. Goulart caiu, vitima de um golpe civil-militar, e Paulo Freire foi convidado a deixar o país.

A elite brasileira é cruel e o país tem dessas coisas. O cara cria o melhor método de alfabetização de adultos do mundo e não consegue aplicá-lo no seu país. Hoje o Brasil ocupa a 10º posição entre os países com o maior número de analfabetos adultos. São 13 milhões deles. Um número vergonhoso até mesmo para os padrões dos países latino-americanos, como observou a UNESCO. Em sua maioria, são mulheres, nordestinas, idosas e empobrecidas, evidenciando-se, também, um componente de gênero. Nos governos da coalizão petista - mesmo que timidamente - ainda foram criados programas como o Brasil Alfabetizado, recentemente extinto. Seriam assuntos como esses que deveriam conduzir esses jovens às ruas, para protestarem. Não para achincalhar cidadãos que tentaram mudar a face injusta de um país construído sob o signo do trabalho escravo, cujas consequências são visíveis até hoje.  

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