pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Em colóquio, Vargas Lhosa fala sobre rompimento com Gabriel García Márquez
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segunda-feira, 17 de julho de 2017

Em colóquio, Vargas Lhosa fala sobre rompimento com Gabriel García Márquez

Em colóquio, Vargas Llosa fala sobre rompimento com Gabriel García Márquez


Em colóquio, Vargas Llosa fala sobre rompimento com Gabriel García Márquez
García Márquez após briga Vargas Llosa, em 1976 (Foto Rodrigo Moya)


Era 12 de fevereiro de 1976, Cidade do México. Dois importantes nomes da literatura latino-americana, o colombiano Gabriel García Márquez e o peruano Mario Vargas Llosa, assistiam juntos a uma sessão privada de cinema. A convivência de nove anos, entretanto, acabou naquela noite, após Llosa dar um soco no olho esquerdo de Gabo.
Iniciada em 1967 na Venezuela, a amizade nunca foi reatada depois do episódio – e os dois não voltaram a se falar até a morte de Gabo, em 2014. Na última quinta (6), após um longo silêncio sobre o assunto, Llosa atribuiu motivações políticas ao rompimento durante um colóquio em comemoração aos cinquenta anos de Cem anos de solidão, na Universidade Complutense de Madrid, na Espanha.
Em diálogo com o ensaísta colombiano Carlos Ganés, o peruano disse que considera a esquerda muito dura com escritores que não aderem ao seu pensamento – e Gabo, em sua opinião, teria apoiado o regime de Fidel Castro em Cuba apenas para não se indispor com a própria esquerda.
“[Gabriel García Márquez] tinha um sentido prático da vida e sabia que era melhor estar com Cuba do que contra Cuba. Assim, se livrou do banho de sujeira que caiu sobre aqueles que eram críticos à evolução da revolução, mais socialista e liberal, para o comunismo”, afirmou o escritor.
Diante da insistência do mediador para que falasse mais sobre o assunto, disse que não tinha mais comentários a fazer e sugeriu que a conversa fosse encerrada.
A hipótese de que ambos haviam rompido devido a discordâncias políticas já era cogitada pelo fotógrafo mexicano Rodrigo Moya, que registrou o olho roxo de Gabo dois dias depois do incidente, em 1976. Segundo ele, na ocasião o colombiano teria dito que Llosa “se somava a ritmo acelerado ao pensamento de direita”.
Biógrafo de Márquez, o jornalista britânico Gerald Martin tem outra opinião. No livro Gabriel García Márquez: uma vida (2010), sustenta que a agressão teve relação a problemas familiares, já que na época ambos moravam em Paris, com suas famílias, e Márquez costumava mediar eventuais conflitos conjugais entre o peruano e sua mulher.
Algo que Gabo teria dito a Patricia, mulher de Llosa, poderia ser o motivo do rompimento, de acordo com Martin. “Isso é pelo que você disse a Patricia” ou “isso é pelo que você fez a Patricia”, são as palavras que Llosa teria dito no momento da agressão.
Durante o colóquio, Vargas Llosa também relembrou as cartas trocadas com Gabo na década de 1960, seu deslumbramento quando leu a narrativa de Macondo, as leituras compartilhadas, os escritores de que gostavam e os encontros e desencontros que tiveram ao longo dos anos de amizade.
“García Márquez não foi um intelectual. Não tinha condições de explicar o enorme talento que tinha na hora de escrever, funcionava mais por instinto, palpite. Dava a impressão que não era consciente das coisas mágicas que fazia, era mais um artista, um poeta”, disse.
Llosa obteve seu doutorado na Universidade Complutense de Madrid com a tese García Márquez: história de um deicídio, uma análise biográfica de 667 páginas de toda a produção literária do autor colombiano até Cem anos de solidão.

(Publicado originalmente no site da Revista Cult)

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