pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Crônicas do cotidiano: Os papéis de Gilberto Freyre
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segunda-feira, 10 de julho de 2017

Crônicas do cotidiano: Os papéis de Gilberto Freyre

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José Luiz Gomes da Silva


Gilberto Freyre continua sendo, sem dúvida, um dos pensadores mais controversos e instigantes entre aqueles grandes intérpretes do país. Talvez este fato explique o frisson no meio acadêmico brasileiro em relação ao achado de alguns dos seus papéis na Universidade de Poitiers, na França, no passado, um reduto de grandes estudiosos de problemas brasileiros. O achado é atribuído ao jornalista Carlos Marques, que estava de passagem por aquele país, e entrou em contato com a Fundação Gilberto Freyre, no Recife. Está sendo acordado um intercâmbio de um pesquisador da instituição, no sentido de que ele possa se dirigir àquela universidade para examinar esses papéis. Na realidade, existe uma vasta produção do escritor ainda para ser catalogada, digitalizada e talvez publicada. No que concerne aos materiais inéditos do escritor, portanto, nenhuma grande novidade. Há muitos baús a serem abertos aqui mesmo na província, no bucólico bairro de Apipucos, onde residia Gilberto.

A expectativa se dá, no entanto, em torno do que poderia ser encontrado do sociólogo naquela universidade francesa. Há alguns fatos curiosos acerca de alguns dos seus escritos. Os originais de Casa Grande & Senzala sumiram há 20 anos aqui do Recife. Nunca foram localizados. Ao amigo e biógrafo Edson Nery da Fonseca, falecido em 2014, Gilberto Freyre teria confidenciado ter escrito aquele livro que completaria tetralogia dos seus estudos sobre a sociedade brasileira, intitulado por ele Jazigos & Covas Rasas, onde ele analisa como pobres e ricos de despedem do plano terrestre. De acordo com Gilberto, ao contrário do que se divulga - uma vez que o texto não foi publicado - o livro teria sido concluído, deixado em algum lugar do Recife, envolto num tecido vermelho. Gilberto teria realizado uma viagem ao exterior e, ao voltar, não mais o teria encontrado. Apenas o prefácio do livro teria sido localizado.

As primeiras impressões da antropóloga Fernanda Arêas Peixoto(USP), que se encontrava em viagem à França e teve acesso ao material encontrado, não nos permitem alimentar muitas expectativas acerca da produção de um trabalho mais denso do escritor. De acordo com a pesquisadora, o material se aproxima mais de fichamentos de livros, aulas ou outras anotações pessoais. Mesmo assim, o material pode oferecer pistas importantes sobre a experiência do escritor como professor visitante de grandes universidades, assim como estabelecer outros nexos biográficos ainda desconhecidos. Casa Grande & Senzala, por exemplo, foi escrito num dos períodos mais adversos de sua vida, quando amargava um exílio em Portugal e precisava dar aulas para sobreviver. Aqui no Recife, implacavelmente perseguido por Agamenon Magalhães, durante o Estado Novo, precisava corrigir o Português dos escritos do Porto do Recife, uma tarefa que o deixava profundamente aborrecido, para garantir os mantimentos na geladeira.

Vale a pena o esforço da Fundação Gilberto Freyre no sentido de examinar com carinho esses papéis. Outro dia, examinando alguns papéis nossos, encontro um dos seus opúsculos, tratando sobre a reforma agrária no Brasil, escrito durante o regime militar, a pedido de Marco Maciel. À época, não dei muito importância ao documento, mas passei a reconsiderar essa posição em razão da curiosidade dos leitores do blog, que nos solicitaram mais informações sobre o assunto. De fato, faz sentido se perguntar o que um intelectual conservador - que nunca esteve preocupado com a construção da igualdade econômica e política, além de constituir-se num dos mais ilustres representantes da aristocracia açucareira da região Nordeste - teria a dizer sobre a reforma agrária no Brasil? Boa pergunta! 

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