pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: Enchentes: Crônica de uma tragédia anunciada.
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quinta-feira, 1 de junho de 2017

Editorial: Enchentes: Crônica de uma tragédia anunciada.


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A enchente que se abateu sobre o Estado de Pernambuco, no último domingo, em razão das torrentes de água que atingiram 26 municípios do Agreste e da Zona da Mata Sul pernambucana, constitui-se numa espécie de crônica de uma tragédia anunciada. Uma enchente nessas mesmas proporções ocorreu no ano de 2010, quando se chegou à conclusão de que apenas a construção de 05 barragens poderiam conter a força das águas dos rios Una, Pirangi, Serinhaém e Panela, evitando novos transtornos para os habitantes dos municípios cortados por esses rios e afluentes. Sete anos se passaram e apenas a barragem de Serro Azul foi construída, onde ficaria retido um terço das águas, de acordo com Marcelo Asfora da APAC. Caso as demais barragens prometidas tivessem sido construída, os dois terços restantes das águas seriam represados, evitando, assim, uma nova enchente nesses municípios, com saldo de mortos, desaparecidos e  milhares de desabrigados.  

Muito provavelmente, a construção dessas barragens envolveriam recursos federais e estaduais. Alguém teve o cuidado de observar a quantas andam esses projetos nos gabinetes dos ministérios de Brasília e constatou que eles estão sendo postos como "em andamento". A rigor, salvo Serro Azul, que, de fato, saiu do papel, não há nada em andamento. Não é incomum a população se depará com essas situações. Nos momentos das tragédias se desenrola aquele script conhecido, com as autoridades federais se reunindo com os governadores; governadores usando coletes da defesa civil; autorização de liberação de recursos emergenciais; autoridades sobrevoando os locais com os seus agasalhos de frio; dando entrevistas e coisas e tais. Colégios, órgãos públicos e empresários privados -incentivados pelos meios de comunicação,entram em campanhas de solidariedade. Passada a refrega, tudo volta à normalidade, torcendo-se que a natureza seja mais complacente da próxima vez. 

Aqui em Pernambuco, por exemplo, quando da chegada do presidente Michel Temer(PMDB), deu-se um fato inusitado. O vice-governador Raul Henry(PMDB) teria perguntado a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra(PSDB), se havia chovido por lá.A prefeita, naturalmente, ficou indignada com a pergunta do vice-governador. Abro aqui um parêntese para elogiar a conduta desta senhora, que nos parece muito bem imbuída de espírito público. Fico aqui de longe torcendo que ela faça uma excelente gestão naquele município, hoje castigado não apenas pelas águas, mais pelos altos índices de violência. Quando resolveu assumir sua candidatura a prefeita da Princesa do Agreste, ela sabia que teria uma grande missão pela frente. Os graves problemas do município já se evidenciavam nas gestões anteriores, além de somar-se o fato de ela representar uma espécie de emblema no conjunto das forças políticas anti-hegemônicas no Estado. Seu espírito público, porém, se sobressai às diferenças políticas e, sempre que necessário, convida o governador - de um partido adversário - a assumir as suas responsabilidades republicanas.  

Por outro lado, alerto o governador Paulo Câmara(PSB) sobre a necessidade urgente de que essas obras de contenção das águas desses rios, prometidas desde de 2010, sejam, de fato, tiradas do papel, como prioridade das prioridades, a despeito do momento de crise econômica que os Estados estão enfrentando. Não entende-se como obras tão vitais para a sociedade possam ser deixadas de lado. É profundamente lamentável o fato, igualmente, que praticamente todas as grandes obras públicas do país guardem o signo da corrupção, traduzidas em desvios, superfaturamento, e propinas pagas aos agentes públicos. Sob esse prisma, hoje começo a ponderar que a realização da Copa de 2014 no país foi um grande equívoco. Apenas na reforma do estádio Mané Garrincha, em Brasília, foram desviados quase um bilhão de reais. Na Arena Pernambuco, fala-se em 80 milhões. Não sou da área de engenharia -muito menos ainda de cálculo - mas posso imaginar que, apenas com uma ínfima parte dos recursos desviados  nas obras da Copa, dava-se para se fazer essas barragens no Estado de Pernambuco. Num exemplo simples, a gravidade dos danos dos desvios do dinheiro público. 


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