pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Em pleno século XXI, quilombolas ainda têm que lutar por direitos básicos
Powered By Blogger

sábado, 13 de maio de 2017

Em pleno século XXI, quilombolas ainda têm que lutar por direitos básicos

Juliana Gonçalves, Thiago Dezan


PASSADOS 129 ANOS desde a abolição da escravatura, os quilombos continuam sendo locais necessários à resistência da população negra. A ancestralidade negra vira combustível para a luta atual contra o racismo e pelo direito à terra – ameaçado ainda mais pelo governo Michel Temer, que paralisou as demarcações das terras quilombolas. O reconhecimento das comunidades remanescentes de quilombos é uma forma de reparar os danos do período escravagista sentidos ainda hoje. O Brasil tem cerca de 3 mil comunidades quilombolas.


As consequências da escravidão ficam evidentes nos números que comprovam que a qualidade de vida da população negra tem uma década de atraso em relação à população branca do país, de acordo com o estudo “Desenvolvimento Humano para Além das Médias” divulgado nesta semana pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – órgão da ONU – em parceria com a Fundação João Pinheiro e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). A pesquisa também aponta que a renda per capita dos brancos chega a ser maior que o dobro dos negros: R$1.097,00 ante R$ 508,90.  
Os dados são retrato de um país onde a escravidão é tratada como atração turística – como denunciado por The Intercept Brasil –, um restaurante tem o nome de senzala e um motel oferece grilhões, jaula e correntes, como os usados em torturas de escravos, como atrativo.
“As pessoas começaram a se incomodar de ver que um negro, um quilombola, tem o mesmo direito que um branco”
Nesse cenário de naturalização de abusos históricos, um político racista não causa tanto espanto. No último mês de abril, duas representações foram encaminhadas à Procuradoria Geral da União contra o deputado federal Jair Bolsonaro por prática de injúria racial em palestra no clube Hebraica, quando o deputado comparou quilombolas com animais e disse que, se eleito presidente em 2018 acabaria com as demarcações. Para a Coordenação Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), o deputado corrobora o discurso racista de ódio que defende que  quilombolas não teriam lugar ou função na sociedade brasileira.
“Quando nós saímos e começamos a reivindicar nossos direitos, aí começou a sair o racismo de baixo do tapete. Porque aí as pessoas começaram a se incomodar de ver que um negro, um quilombola, tem o mesmo direito que um branco, que um rico”, afirma Ivone de Mattos Bernardo, moradora do Quilombo Maria Conga em Magé, na Baixada Fluminense.

Direito à terra

Hoje, 199 comunidades estão aguardando análise do Instituto Palmares para a receber a certificação de Comunidade Remanescente de Quilombos. Já as demarcações das terras ficam a cargo do INCRA.  No entanto, o  governo Michel Temer suspendeu as demarcações de terras quilombolas até que a Ação Direta Inconstituicional – ADI 3239 seja julgada no Supremo Tribunal Federal (STF) – o que não tem data para acontecer.
Essa revisão acontece em um período de forte pressão da bancada ruralista que comanda a CPI Funai-INCRA e questiona as titulações. A disputa por terras causa mortes no campo e perseguições como a da Marinha aos moradores do Quilombo Rio dos Macacos, mostrada pelo The Intercept Brasil em fevereiro deste ano.
De acordo com defensores da política de demarcação das terras, o governo estaria se antecipando à decisão do Judiciário. A paralisação é algo inédito desde o início das demarcações em 1995. Além de lidar com racismo estrutural da sociedade, a comunidade quilombola enfrenta  mais um retrocesso do governo Michel Temer.  
(Publicado originalmente no site do Intercept Brasil)

Nenhum comentário:

Postar um comentário