pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: Emílio Odebrecht abre o jogo.
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terça-feira, 14 de março de 2017

Editorial: Emílio Odebrecht abre o jogo.


Emílio Odebrecht aparece no canto direito. Ao lado, o filho, Marcelo, e atrás o pai, Norberto (Foto: Divulgação)
Havia uma grande expectativa em torno da audiência entre o patriarca da Construtora Odebrecht, Emílio Odebrecht, e o juiz Sérgio Moro, que dirige os trabalhos da Operação Lava Jato. Creio que essa expectativa não foi quebrada, quando se toma como referência, por exemplo, a dinâmica dos financiamentos de campanhas políticas no Brasil, notadamente naquilo que se refere aos procedimentos ilegais, ou seja, o chamado Caixa 2, que a nossa elite política, agora, tenta institucionalizar como um procedimento natural. A fala do patriarca do grupo, pelo menos nos áudios que voltaram a vazar acidentalmente, foi marcada por um grande equilíbrio ao se referir às famosas listas da empreiteira, mas desferiu alguns golpes certeiros sobre o nosso combalido sistema político. 

Alguém nos informou que o senhor Emílio Odebrecht já teria instruído o filho, Marcelo Odebrecht, a contar tudo, não esconder nada, como sugeriu o ex-presidente Getúlio Vargas aos pescadores que o procuraram no Palácio do Catete, depois do famoso reide de 1942. Ele, no entanto, negou a existência de um certo Departamento de Obras Estruturadas na Construtora, também conhecido como Departamento de Propinas, algo que foi confirmado pelos seus executivos arrolados no programa de delação premiada. Prudente, evitou identificar alguns "apelidos" das famosas listas da empresa. Sinceramente, na condição dele, eu também não me arriscaria a identificar de quem se tratava, de fato, o Viagra, o Caranguejo, Caju, Acarajé, O Chefe, o Italiano e tantos outros. Creio que os advogados de defesa terão aqui elementos consistentes para a defesa dos seus clientes, embora, a rigor, nas coxias saiba-se de quem se trata. Afinal, Acarajé é um bolinho baiano delicioso e nada mais que isso. Ninguém pode ser punido simplesmente por ter sido apelidado assim. A força-tarefa da Operação Lava Jato terá que contar com a boa vontade dos delatores para identificar essas figuras, como a confirmação recente de um deles, afirmando tratar-se de Palocci o tal Italiano das planilhas. 

Mas, naquilo que mais importa, ou seja, o destrinchamento dos financiamentos irregulares de campanhas políticas no Brasil, Emílio Odebrecht foi preciso: é prática corriqueira no Brasil, desde longas datas. É atribuída a ele uma frase - não sei se procedente - onde ele teria afirmado que a Construtora Odebrecht, através de expedientes do gênero com agentes públicos, governou o país nas últimas décadas. Creio que, se considerarmos a linha do tempo da existência da empreiteira, nem mesmo os militares que governaram o país após o golpe civil-militar de 1964 fogem a essa obervação do patriarca do grupo. A desgraça maior é que, justamente no momento em que esses fatos estão subindo a superfície institucional, exalando seu odor fétido de podridão, eis que a nossa elite política soma esforços para mudar a legislação - e até a sinonímia - no sentido de proceder uma espécie de "normalização" do Caixa 2, ou como disse o indefectível ministro Gilmar Mendes, é preciso separar o Caixa 2 ruim do Caixa 2 bom, numa tradução livre deste editor.

Neste ponto, toda a classe política, com raríssima exceções, deverão se unir em torno do tema. Afinal, são poucos os políticos que não estão de rabo preso com esta excrescência do nosso sistema político agonizante. Seria uma legislação corporativa, de conveniência e com propósitos escusos. Há um texto nosso, publicado aqui pelo blog, já faz algum tempo, que alcança uma grande audiência na blogosfera, dentro e fora do país. É um texto sobre as nossas alianças políticas espúrias, ou seja,trata justamente das manobras pouco republicanas de nossa classe política no sentido de "empurrar os problemas com a barriga indefinidamente". A Lava Jato é um bom exemplo disso. No momento em que ela escapou aos limites estritos, impostos no sentido de atingir determinados atores políticos, e começou a respingar sobre a nossa elite política conservadora/governista, o caldo parece entornar no sentido de se encontrar expedientes para "estancar a sangria", como essa tentava de legislar em causa própria.  


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