Para dispersar os protestos contra o governo que se espalharam no último final de semana pelas regiões de Amhara e Oromia na Etiópia, as forças de segurança do Estado mais uma vez usaram a força letal – matando cerca de 100 manifestantes desarmados.
Estima-se que desde novembro de 2015 mais de 500 manifestantes tenham sido mortos pelas forças de segurança em protestos em grande parte pacíficos. Os manifestantes protestam contra supostos abusos e discriminação por parte do governo.
Manifestantes entoam lemas durante um protesto sobre o que chamam de injusta distribuição de renda no país na Praça Meskel na capital da Etiópia, Adis Abeba, no dia 06 de agosto de 2016
Manifestantes entoam lemas durante um protesto sobre o que chamam de injusta distribuição de renda no país na Praça Meskel na capital da Etiópia, Adis Abeba, no dia 06 de agosto de 2016
As autoridades prenderam milhares durante as manifestações e acusaram líderes políticos da oposição de terrorismo. A resposta dura do governo provavelmente pode alimentar uma crescente fúria e frustração.
Na quarta-feira, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos salientou a necessidade de uma investigação internacional sobre as mortes. O governo da Etiópia rejeitou imediatamente, afirmando à Al Jazeera que seria responsável pela segurança do seu próprio povo.
Alguns governos, incluindo o Reino Unido, decidiram aguardar o resultado de uma investigação pela Comissão Nacional de Direitos Humanos da Etiópia sobre a resposta que o governo etíope tem dado aos protestos nas regiões de Oromia e Amhara antes de decidirem como agir. Em apresentação feita ao Parlamento em junho, no entanto, a comissão concluiu que o nível de força usada pelas forças de segurança em Oromia foi proporcional ao risco que enfrentaram de manifestantes.
Dias antes, a Human Rights Watch havia relatado que o uso excessivo da força resultou na morte de cerca de 400 pessoas durante os protestos em Oromia – e que a resposta foi tudo, menos proporcional.
A Comissão de Direitos Humanos tem uma história de laços estreitos com o governo.
Somando isso à arraigada ausência de controle das forças de segurança, fica evidente a necessidade de uma investigação internacional.
Em maio, um policial federal da reserva que esteve envolvido na repressão dos protestos deu risada quando lhe perguntei se sabia de quaisquer agentes responsabilizados. "Nós podemos fazer o que quisermos para parar os protestos", disse ele. "Apenas nossas famílias e comunidades é que nos constrangem e nos fazem sentir culpados pela forma que atuamos contra nosso povo".
A Etiópia tem sido contrária à avaliação internacional de seu histórico de direitos. Apesar de sua eleição em junho para o Conselho de Segurança da ONU e seus membros no Conselho de Direitos Humanos, a Etiópia tem recusado a visita por parte de todos os relatores especiais da ONU desde 2007 – incluindo o relator especial da ONU sobre a liberdade de reunião pacífica e associação.
A Organização das Nações Unidas e os governos aliados devem pressionar a Etiópia para que pare de usar força excessiva contra manifestantes, além de assegurar que haja controle e responsabilização dos membros das forças de segurança que assim o fazem, independentemente de sua patente. Eles devem pressionar o governo etíope a permitir que observadores internacionais investiguem os abusos na Etiópia antes que o país entre em uma crise política e de direitos humanos ainda mais perigosa e irreversível.