pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Os filisteus e a universidade pública em chamas
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domingo, 1 de janeiro de 2017

Os filisteus e a universidade pública em chamas

                               
 


É verdadeiramente desconcertante vê e ouvir a reação dos desavisados que se defrontam hoje com as imagens de salas quebradas, livros desarrumados, equipamentos fora de lugar, sujeira, pichação e a desordem reinante nas salas de aula do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH). Triste fama tem esse instituto de ciências humanas: de local preferido dos suicidas a pardieiro universitário. A quem cabe a responsabilidade de tamanha desolação? – Aos estudantes, que lutaram bravamente (e sozinhos) contra a aprovação da PEC da morte (da morte do ensino, da morte da saúde, da morte do investimento público etc.)? – Aos professores, que abandonaram a instituição, quando se decretou a greve dos docentes e a ocupação dos institutos? – A direita universitária – hoje representada publicamente por um indivíduo chamado de Jungmann e que incrimina o reitor pela sua leniência? – Aos infiltrados da polícia no movimento das ocupações para desmoralizar o movimento? À própria polícia que vem se acostumando a invadir o campus, desrespeitando a autonomia universitária, ao primeiro ruído de conflito? – Aos empresários do ensino pago, que torcem pelo fim da universidade pública?  Ou ao próprio governo federal, que não nega – através de seu ministro avicultor – a sua má vontade para com o financiamento da Universidade Pública?

Ao invés de, simplesmente “emprenharem” pelos olhos e os ouvidos – como dizia a minha velha professora de Português – tudo aquilo que escutam ou pensam que viram através do cenário da destruição, deviam ter um pouco de senso crítico e não fazer coro com os que declaradamente ou não, querem usar o movimento estudantil  como arma contra a Universidade Pública, inflamando os ânimos dos “idiotas da objetividade” que só sabem repetir o óbvio e os chavões do senso comum: estudante é para estudar, estudante não é baderneiro, vândalo, bandido ou coisa do gênero. Belos professores esses. Omitem-se diante da crise e tomam posição contra as vítimas da incúria governamental. Devem ser da marca dos filisteus de Nietzsche que só enxergam os pontos do “curriculum Lattes” (aquele que não morde), e nada mais. Não se interessam pelo que se passa no entorno da instituição universitária, e acham que os protestos são casos de polícia. Isso até perderem seus empregos, seus salários, suas aposentadorias e as próprias salas de aula, com o fim da universidade pública.

Com docentes como esses que veem nos estudantes seus inimigos, a Universidade Pública não precisa de inimigos. Já os tem bem instalados em suas entranhas. Corporativismo, alienação, conformismo, medo e espírito de vingança contra os estudantes. Universidade minada, por dentro e fora. Só os estudantes são os que ainda podem salvar o patrimônio público, de lutar por ele, se sacrificar por ele. Seus professores estão confortavelmente sentados nas poltronas da iniquidade e da cegueira, na condição de juízes de instrução ou de carrascos.
.” Viva los Estudiantes!”, como dizia uma velha canção. Eles são o sal da universidade pública, que a protege da podridão moral e política que campeia no campus universitário.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE. 

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