pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Pesquisa da Fundaj revela que Ipojuca é vulnerável e está aquém das condições de acompanhar o desenvolvimento de Suape
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terça-feira, 3 de maio de 2016

Pesquisa da Fundaj revela que Ipojuca é vulnerável e está aquém das condições de acompanhar o desenvolvimento de Suape

O Polo Industrial de Suape, nos municípios do Cabo de Santo Agostinho e de Ipojuca, foi superdimensionado em sua capacidade de governabilidade e de controle dos seus impactos”, é o que afirma a pesquisa “Impactos do Complexo Industrial Portuário de Suape: migração, trabalho, condições de moradia, identidade e novas territorialidades”, coordenada pela pesquisadora Helenilda Cavalcanti, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).
A pesquisa observou que a população adulta da cidade de Ipojuca é muito vulnerável e está aquém das condições para acompanhar as demandas impostas pelo desenvolvimento do lugar, como a oferta de postos de trabalho na região. Foi detectada, em Ipojuca, uma “expressiva” quantidade de menores de 15 anos e de pessoas idosas, e há uma carga de dependência de crianças e idosos relativamente alta, sendo acima de 40%, de dependentes de domicílios declarados como tendo como único responsável uma pessoa do sexo feminino. “Há uma incidência de 45% de mulheres sem cônjuge, com filhos e sem parentes na cidade”, informa a coordenadora da pesquisa.
O estudo, realizado em parceria com a UFPE e a UFPB, e financiado pelo MEC e pelo CNPq, acaba por revelar que, por todas essas condições desfavoráveis da população de Ipojuca, há um baixo orçamento doméstico na região. Os “trabalhadores locais”, de Suape, ganham abaixo do salário mínimo, enquanto que os que vêm de fora, os migrantes, são os únicos que recebem mais do que dois salários mínimos em Ipojuca.
Para Helenilda Cavalcanti, “essa condição justifica a busca dos gestores e empreendedores por pessoas de outras regiões (migrantes) para ocuparem as vagas oferecidas pelos empreendimentos de Suape”. Explica a pesquisa: "A intensa migração para os municípios do Território Estratégico de Suape (TES), especialmente para Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho e principalmente de trabalhadores do sexo masculino voltados para as atividades da construção civil, vem estimulando o crescimento da prostituição infantil, assim como tem sido observada uma rápida escalada da violência urbana e do consumo e tráfico de drogas".
Economia 
Os problemas sociais refletem na economia do município. A pesquisadora aponta que, “embora a população de Ipojuca tivesse, em 2010, uma participação de apenas 0,009% do total do estado, seu PIB representava 9,56% de toda a riqueza produzida em Pernambuco, inferior apenas ao da capital”.
Na opinião de Helenilda Cavalcanti, “ao compararmos o aumento proporcional do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) dos municípios do TES com a ampliação proporcional do PIB e do PIB per capita, notamos que as melhorias nos indicadores de desenvolvimento humano não ocorreram na mesma magnitude e velocidade que o crescimento da riqueza produzida na região". E mais: "Novamente percebemos que mesmo em face de melhorias nas condições médias de vida da população local, há uma tendência que vem privilegiando o crescimento econômico, e Ipojuca, que concentrou a maior parte do crescimento econômico na região, embora tenha atingido o segundo maior PIB do estado e um dos maiores PIB’s per capitado país, sequer atingiu o patamar médio do IDHM de Pernambuco, mantendo-se distante da média nacional”.
A coordenadora da pesquisa, Helenilda Cavalcanti, analisa que “Ipojuca teve uma elevação, linear e proporcional significativa, do salário, destacando-se especialmente o grande aumento do salário médio, que saltou de 2,7 salários mínimos em 2007, para 4,3 em 2011”, mas concentrado principalmente nos salários dos imigrantes, ou seja, os trabalhadores que vieram de fora da cidade.
Ela comunica que “a verificação das faixas salariais mais incidentes entre os municípios do TES indica que a maioria da população recebe, em geral, até dois salários mínimos, e, em Ipojuca, 61% da população assalariada recebia em 2010 menos de dois salários mínimos, indicador semelhante ao de Cabo de Santo Agostinho, que concentrou 57% de sua população com rendimentos nesta mesma faixa”. Muito embora, os dados apresentados são compatíveis com a média estadual, de 60% da população com salários até dois mínimos.
Em Ipojuca, segundo dados do IBGE, “31% dos assalariados recebiam em 2010 até um salário mínimo, e 30% de um a dois salários, significativamente menores que a média salarial do período, que era de 3,8 salários”.
Moradia 
Com isso, as condições de moradia em Ipojuca são ruins. A pesquisa encontrou que “há uma tendência, como no Cabo de Santo Agostinho, da população concentrar as suas moradias nos morros”. Na cidade de Ipojuca, com mais característica rural do que o Cabo, a população mais pobre subiu os morros de forma desordenada e aí percebemos a verticalização nos morros no município.
A pesquisa acaba por perceber que, "ampliam-se as ocupações habitacionais irregulares (além de em encostas de morros), de mananciais e em áreas de proteção ambiental, condicionadas, por um lado pelo aumento rápido da demanda por habitação, e por outro pela intensificação da especulação imobiliária, derivando daí processos de favelização".

(Texto da Assessoria de Comunicação da Fundação Joaquim Nabuco)

P.S.: do Realpolitik. Durante alguns anos, ministramos aulas nas turmas de Administração e Contabilidade de uma faculdade localizada na cidade de Ipojuca. Pedi aos alunos que realizassem uma pesquisa sócio-econômica com a população local, como atividade de uma disciplina. A cidade que ostenta o orgulho de possuir a praia "mais bonita do Brasil", na realidade, apresenta alguns indicadores sociais preocupantes, como os mostrados na pesquisa acima. 

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