pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: A estética do golpe
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sábado, 7 de maio de 2016

Editorial: A estética do golpe





O sociólogo Gilberto Freyre costumava afirmar que no Brasil tudo seria possível. Não o surpreenderia, por exemplo, que uma festa profana como o carnaval pudesse ser programada para uma Sexta-Feira Santa. Morreu sem ver a sua profecia confirmar-se. Aqui no Estado existe uma cidade, na região do agreste, que tornou-se estância de inverno da burguesa pernambucana: Gravatá. Pois bem. Nesta cidade, durante o período da Semana Santa, são programadas intensas festividades. As maiores atrações da festa se apresentam exatamente na Sexta-Feira Santa. Ao longo de sua história, o país seria caracterizado por essas "atipicidades" ou idiossincrasias. Já falamos por aqui sobre o mal-entendido da democracia entre nós, a partir das reflexões do historiador Sérgio Buarque de Holanda.  

Com a instauração da Ditadura Militar no país, a partir do golpe civil-militar de 1964, os militares brasileiros também procuraram "salvar as aparências", movidos não se sabe por qual motivo. O fato é que, apenas por alguns aspectos, também tivemos uma experiência ditatorial "atípica". Existiam eleições para a câmara de vereadores e a prefeitura das pequenas cidades, assim como foi permitida uma "oposição consentida". Pelo andar da carruagem política, logo afirmar que o que está ocorrendo por Brasília trata-se de um "golpe" será considerado crime. Mas, vá la que seja, estaremos muito bem acompanhado pelos brasileiros e brasileiras que não se acovardaram. 

Ontem, por recomendação de um amigo, assistimos a um vídeo de Wadih Damous sobre a estética do golpe. No vídeo, o analista tenta descrever o que poderia ter ocorrido em relação à decisão do Supremo Tribunal Federal no sentido de afastar o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. No episódio ocorreu o que ele chamou de "estética do golpe". Os golpistas, segundo o autor, tentam emprestar à manobra uma aparência de cruzada contra a corrupção e, neste caso, o nome de Cunha entre eles poderia macular essa atmosfera. Cunha é muito sujo até para os padrões dos golpistas. A mesma lógica pode ser aplicada à reprimenda da emissora do plim plim ao condenar a presença de nomes envolvidos na Operação Lava Jato num possível Governo Temer. 

E por falar em "aparências", registre-se a conclusão do senador Antonio Anastasia(PSDB), relator do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado Federal, de que não se poderia falar em "golpe" quando o réu teve amplo direito de defesa. Mais uma vez, o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, destruiu completamente seus argumentos, apresentando uma galeria de condenados ilustres que também tiveram amplo "direito de defesa" dos seus algozes. Aliás, historicamente, como enfatiza Cardozo, todos esses réus tiveram "defesa", mas as suas condenações já estavam previamente decidida. A defesa, neste caso, era uma grande "farsa". 

Como estamos num país "atípico", por uma dessas ironias da história, essa marcha da insensatez pode ser interrompido por quem menos se espera, o deputado maranhense, Waldir Maranhão, que assumiu a Presidência da Câmara dos Deputados, com o afastamento de Eduardo Cunha. Já está em suas mãos, o pedido de "nulidade" do processo, encaminhado pelo Advogado-Geral da União, José Eduardo Cardozo. Aliado de Cunha, do baixo clero, ele poderá entrar para a história com uma decisão que restaure a observância à Constituição do país, que estabelece que um presidente da República não pode ser afastado sem um crime de responsabilidade que o justifique.  


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