pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Michel Zaidan Filho: A crise política brasileira
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terça-feira, 26 de abril de 2016

Michel Zaidan Filho: A crise política brasileira

Neste último fim de semana, um amigo e editor de BLOG me perguntou se estava tudo bem. Se for possível separar a vida privada da vida pública, posso responder que sim. Afinal a vida de professor não é tão ruim como se pensa. Mas se pensarmos da perspectiva da vida do cidadão brasileiro, aí a coisa muda de figura. Não há que não sinta um verdadeiro asco da política brasileira. Nem sequer o Senado instalou a comissão que vai decidir sobre a admissibilidade do pedido da Câmara sobre o afastamento ou não da Presidente Dilma, reconhecidamente ilegal, os conspiradores se movimentam impudentemente para formar um novo governo, distribuindo cargos, nomeando ministros, anunciando agendas e procurando convencer o mundo de que o que foi feito, foi de acordo com a Constituição do país.

Falta, naturalmente, acordar com o povo brasileiro que deu 54 milhões de votos à Presidente da República. Transformar um golpe de mão, mesmo embalado numa pseudo-legalidade não é fácil. Sobretudo no ambiente de suspeição interna e externa ao Brasil, é possível que os aliados de Temer e Eduardo Cunha achem que, na ausência de apoio popular, podem simplesmente reprimir pela fôrça as manifestações de protesto que pipocarão pelo país, de ponta-a-ponta contra a manobra golpista. A essa altura vai ficando claro as reais motivações do golpe. Elas nada têm a ver com qualquer fundamento legal ou jurídico para esse processo. 

Trata-se de uma imensa coligação de interesses espúrios, anti-republicanos que conjuga a crença na impunidade do judiciário e da policia federal em relação aos deputados e senadores hoje investigados, o revanchismo da oposição e a ambição do senhor Michel Temer, de se tornar Presidente do Brasil a qualquer preço. A manobra vai custar caro ao povo brasileiro. Ela deve radicalizar o corte orçamentário (o chamado superavit primário) para agradar os portadores da dívida pública brasileira, os bancos, a plutocracia da Avenida Paulista, os evangélicos e sua agenda reacionária, os agroexportadores e as empresas multinacionais, de olho do que resta do patrimônio público nacional, a ser oferecido por Temer e seus asseclas na bacia das almas, a preço de banana, como contrapartida ao endividamento do país.


Ninguém espere tranquilidade ou pacificação, neste governo de traição. Tanto os movimentos sociais progressistas como os deputados e senadores fiéis à Constituição prometem obstruir as votações dessa agenda iníqua, antipopular e antinacional. Deve se esperar um governo refém dos interesses que o ajudaram e uma imensa dificuldade de convencer à sociedade que dispõe de legitimidade para encaminhar propostas que tirem o país da crise econômica e social. os acenos que serão dirigidos aos setores de cima, como forma de quitar a fatura do Impeachment agravarão a crise dos de baixo, a estabilidade do emprego, a garantia de que as dotações orçamentárias para saúde e educação não seja ameaçada. Os servidores públicos e os aposentados ou os que ainda vão se aposentar.

E o Judiciário, o que tem a dizer sobre isso? - Vai cruzar os braços e dizer que o processo é de competência do Legislativo e que não interfere, mesmo diante de flagrantes ilealidades ou vícios de origem? - Os nossos magistrados terão que assumir a sua parcela de responsabilidade pelo que vier acontecer no país. Quando há uma evidente crise nos demais poderes, a judicialização das questões políticas é inevitável. Se furtar dela é entregar o país ao caos, à ingovernabilidade, à força dos mais fortes, dos mais poderosos, não necessariamente dos que estão com a razão.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia.

P.S.: do Realpolitik: Nossos cumprimentos por mais um excelente artigo, que traduz, com precisão, o momento político que estamos passando. Pontualmente o "pacote de maldades" de Michel Temer já começa a vazar para a imprensa. A foto acima é de uma palestra do prof. Michel Zaidan na Universidade Católica de Pernambuco. Um grande abraço,mestre!

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