pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Crônicas do cotidiano: Arruando pelas ruas do Recife com uma namorada americana.
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quarta-feira, 13 de abril de 2016

Crônicas do cotidiano: Arruando pelas ruas do Recife com uma namorada americana.






Houve um tempo em que residíamos ali naquele espaço que os amigos denominavam de "Portal do Derby", um trecho já no final da avenida Conde da Boa Vista e início do bairro do Derby, separados apenas pela Av. Agamenon Magalhães. Bons tempos aqueles, onde se podia curtir as árvores centenárias da praça do menor bairro do Recife, os amigos da Casa do Estudante, a cervejinha gelado do Drive In - aos final da tarde -, o Cinema da Fundação -nas matinês dos domingos-, os eventos da Cultura Francesa. Por essa época namorávamos uma americana que, não raro, fazia uma ponte entre Nova York, Derby e Gaibu apenas para matar as saudades do mago.Que chico!, como diria minha caçulinha Maria Luísa. Outro dia, remexendo as coisas velhas, encontramos um monte de recordações daqueles tempos.

Dando-se uma esticadinha a mais - mais para a Conde da Boa Vista - podia-se apreciar as iguarias gastronômicas do seu mercado - como o cuscuz com bode guizado de Dona Maria - uma prosa no Bar Mustang, os sorvetes da primeira soverteria Fri-Sabor, os pães da Padaria Imperatriz, que fica imprensada na rua do mesmo nome - onde se fazem os melhores pães do Recife. Os sorvetes da Fri-Sabor já não são mais os sorvetes daqueles tempos. Não são mais os sorvetes que costumávamos apreciar com Marlon, Gabriel e outros amigos de outrora. Era um sorvete artesanal, de receita caseira, imbatível. Creio que o processo de industrialização não lhe fez bem. A marca foi comprada e expandiu seus negócios. É administrada pelas mulheres de um grande grupo industrial do Estado. Nada contra as mulheres, mas o sorvete não é mais o mesmo. 

Por essa época, ainda se podia vestir uma camiseta, uma bermuda folgada, calçar um chinelo havaiano e arruar pelo Recife,como diria Mário Sette, curtindo sua paisagem, seu sítio histórico, sua gastronomia, sem os receios de ser molestado numa esquina qualquer. Não que não houvesse essas ocorrências desagradáveis naquele período, mas, certamente, a incidência era bem menor. Sempre gostava de começar ali pela tradicional Faculdade de Direito do Recife, nas proximidades do Parque Treze de Maio. O Parque Treze de Maio tem 6,9 hectares e já foi bem maior no passado, segundo dizem. Havia a informação de que tanto o prédio onde hoje funciona a Câmara Municipal do Recife quanto a Faculdade de Direito do Recife teriam contribuído para limitar seus espaços. Depois descobri que foram edificações construídas bem antes da inauguração do Parque. O que, de fato, contingenciou seu espaço físico foi a construção da Biblioteca Pública do Estado e o complexo escolar do IEP. 

À época foi instituído um concurso para a aprovação do projeto do Parque, vencido por Domingos Ferreira, nome de uma avenida do Bairro de Boa Viagem. Comenta-se, igualmente, Gilvan Lemos, que os pardais chegaram no Recife através daquele parque. Havia ali, em abundância, um inseto que incomodava bastante seus frequentadores. A solução foi importar esses pássaros de origem africana para o local. Eram predadores naturais deste inseto. Tornaram-se uma praga urbana, inclusive afugentando muitas outras aves daquele local.

Seguindo pela Princesa Isabel, vamos dar num trecho da Rua da Aurora, onde o poeta Manuel Bandeira ia fumar escondido. Casario ainda preservado, prédio do Ginásio Pernambucano e da Assembleia Legislativa do Estado. Na direção da TV Universitária é mais bonito, inclusive pelas intervenções do local e do manguezal do Capibaribe, mas já não se aconselhava desde aquela época. É mais seguro ir em direção ao centro. Na época, na cabeceira da ponte Princesa Isabel, ficava uma escadinha onde se era possível alguns flashes, observando-se, ao fundo, o Palácio do Campo das Princesas. Era uma boa tomada. 

Cruza-se a ponte Princesa Isabel - há um poema aos namorados nas pontes e nas águas do Rio, J. Michiles -  e chega-se à bifurcação que nos remete ao Palácio do Campo das Princesas ou ao Teatro de Santa Isabel. Na pracinha que fica em frente ao Palácio do Campo das Princesas, um imenso Baobá, talvez o mais robusto do Recife. Possui um tronco enorme. Seguindo em frente - depois de apreciar as belezas do Rio Capibaribe, conhecer o Pátio de São Pedro e o Mercado de São José - estamos chegando ao Recife Antigo, Marco Zero, Praça do Arsenal, Torre Malacoff, Rua do Bom Jesus, Sinagoga Kahal Zur Israel, a primeira construídas pelos judeus nas Américas, Teatro Apolo - o mais antigo do Recife - Cais do Porto, Rua da Guia, Marco Zero, onde o Recife nasceu há cinco séculos.  Ainda hoje se faz aquele trajeto, por sinal inseguro, em alguma canoa, entre o Porto e as esculturas de Francisco Brennand, na outra margem.Na época elas ainda não existiam. 

Comenta-se que a esposa de um prefeito do Recife fez alguns comentários sobre aquelas esculturas e o caso repercutiu bastante, quase provocando uma tragédia. Na opinião dela, as esculturas se assemelhavam ao órgão sexual masculino. Um colunista social resolveu relatar o fato numa coluna que assinava no jornal e o prefeito entrou armado na redação para tomar satisfações. Aquela área ali era muito boa para os amassos. Deserta e romântica. Ficávamos por ali mesmo, horas a fio, voltando apenas no finalzinho da tarde. 

Aos domingos, logo cedinho, Gaibu, onde ficávamos na palhoça de seu Duda, um senhor muito conhecido na localidade. Ali se comia muito bem os frutos do mar, preparados com esmero para clientes de longas datas. À noite, num barzinho, ouvir música ao vivo, na voz e violão de Paulinho. Leslye, este era o nome dela, gostava muito de Geraldo Azevedo, principalmente Dia Branco, música obrigatória no repertório de Paulinho.Depois de um pucha- encolhe que durou três anos e meio - sempre nessa ponte Nova York -Derby-Gaibu , Leslye deve ter se cansado da insistência para que fôssemos residir na terra do Tio Sam. Ela acabou ficando por lá, e eu por aqui, na província, ainda se lambuzando com o cuscuz com bode de Dona Maria. Faça bom uso dos seus hamburgueres com Coca-Cola.  

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