pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Pierre Bourdieu no Recife. Fará uma palestra na Prefeitura da Cidade, a convite de Geraldo Júlio.
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domingo, 21 de fevereiro de 2016

Pierre Bourdieu no Recife. Fará uma palestra na Prefeitura da Cidade, a convite de Geraldo Júlio.







Esse discurso falacioso dos socialistas tupiniquins sobre "Nova Política" e "Meritocracia", que não resiste às práticas cotidianas observadas na gestão, também está conduzindo seus operadores políticos à situações inusitadas, para não ferirmos a sensibilidade de nossos leitores. O rapaz que conduz a pasta à qual ficará subordinada a filha do ex-governador Eduardo Campos, na Prefeitura da Cidade do Recife, afirmou que ela foi conduzida ao cargo por exigência dos próprios companheiros de trabalhos, em virtude de sua competência. Indagado a esse respeito, pela reportagem do Jornal do Commércio, o prefeito Geraldo Júlio produziu uma frase que deverá entrar para o folclore político pernambucano: Isso acontece com milhares de jovens.

Um dos autores mais festejados quando se discute essas questões de desigualdades é o sociólogo francês, Pierre Bourdieu, ele mesmo vítima infame dela, por ter nascido numa província do interior da França, e ser de origem social fragilizada. Fez um esforço pessoal tremendo para se afirmar na academia parisiense, sabidamente um espaço social repleto de interdições. Superou todos os obstáculos e acabou sendo aceito no Collège de France, onde só entra a elite intelectual francesa, os melhores de sua área de atuação. Dizem que, por motivo de afirmação, escrevia muito difícil e era, pessoalmente, uma pessoa não muito afável. 

Suas idéias entraram no Brasil através das faculdades de educação, onde ele é um dos principais expoentes da teoria crítico-reprodutivista. Por isso mesmo, um dos seus livros mais conhecidos é "A Reprodução", onde traça um diagnóstico do sistema escolar francês, com espaços de fronteiras fechadas, destinados aos filhos da elite, e um outro sistema, para atender aos mais empobrecidos, reproduzindo as condições sociais, simbólicas e materiais de existência do indivíduo. Não é um livro de leitura fácil, mas o recomendaríamos ao senhor Geraldo Júlio. 

Até recentemente, tive o prazer de fazer um curso sobre ele, enfatizando outros aspectos de sua obra, como a construção social da hegemonia ou dominação masculina. Mas, tive o cuidado de avisar para ele pegar leve com essa gente do PSB. Apesar da suposta sólida formação na área de Exatas, eles precisam voltar aos bancos escolares para aprenderem lições sobre patrimonialismo, liberdade de expressão, Estado Democrático de Direito, nepotismo, familismo amoral além de outros conceitos básicos, mas fundamentais para uma boa condução da máquina pública.

Numa sociedade profundamente desigual como a nossa, Geraldo, é preciso ficar atento ao conceito de "capital simbólico", por exemplo, onde se ampliam as interdições do indivíduo num determinado espaço, que não são determinadas apenas pelas desigualdades econômicas, como desejava Marx. Ou seja, desigualdades sociais não decorreriam somente de desigualdades econômicas, mas também dos entraves causados, por exemplo, pelo déficit de capital cultural no acesso a bens simbólicos.

Portanto, Geraldo, a possibilidade de um indivíduo, de um pouco mais de 20 anos, nascido nos bairros alagados da periferia do Recife ou nos Alto da Foice ou do Capitão, começar a vida com um poupudo DAS, num cargo de chefia, são remotas. Remotíssimas. Aliás, se sobreviveu aos 20 anos, certamente, precisou comer o pão que o diabo amassou, usando transporte público com as dificuldades conhecidas, fazendo biscates ou subempregado. De onde você tirou essa expressão: Isso acontece com milhares de jovens. Talvez devesse explicar, com clareza, quem são esses jovens privilegiados pelo "habitus". 

Para mediar o debate, convidei o economista Marcelo Nery, ex-ministro e ex-presidente do IPEA, hoje na Fundação Getúlio Vargas. Ao lado de Márcio Pochmann, Nery é conhecido como um dos principais atores políticos identificados com as políticas de inclusão social dos governos de coalizão petista. Mas, a razão principal para o convite é a sua tese de doutoramento, onde ele discute o conjunto de oportunidades desiguais ofertadas aos que ocupam o topo da pirâmide social e os que ocupam o andar de baixo. Daria um bom debate. Não deixe de comparecer. É uma oportunidade única de rever os seus conceitos. Com essa visão seletiva e enviesada, logo se vê que não avançaremos muito em sua gestão. 






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