pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Crônicas do cotidiano: Morre Luiz, do Buraco da Gia.
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sábado, 27 de fevereiro de 2016

Crônicas do cotidiano: Morre Luiz, do Buraco da Gia.






José Luiz Gomes da Silva

Há alguns anos atrás, costumávamos visitar uma comunidade remanescente de quilombos, no distrito de São Lourenço, na cidade Goiana, localizada na Mata Norte do Estado. Nossa primeira estação era a própria cidade, com o apoio sempre prestimoso de Serginho da Burra e da professora Carminha, de uma faculdade local. A cidade de Goiana possui um passado histórico riquíssimo, sobretudo durante o apogeu do ciclo da cana-de-açúcar. Foi palco de vários movimentos insurgentes e, uma das primeiras indústrias têxteis do Estado foi instalada naquela cidade. 

Seu sítio histórico, por sua vez, composto do casario, de igrejas centenárias, conventos, o ateliê do artesão Zé do Carmo, é de uma riqueza indescritível. Mas, um circuito histórico pela cidade ficaria incompleto se deixássemos de conhecer o famoso Restaurante Buraco da Gia, comandado por um senhor simpaticíssimo, conhecido por Luiz da Gia, na realidade, Luiz Morais, o embaixador de Goiana. Tudo era muito simples, saboroso e prazeroso com Luiz da Gia. A origem do Restaurante deve-se a uma terreno adquirido por Luiz, ,muitos anos atrás, onde havia uma cacimba, que encontrada uma jia, habitante do local. 

O Restaurante foi erguido e, em homenagem à jia do cacimbão, Luiz o batizou de Buraco da Gia. A palavra "jia" é escrita com "j", mas isso pouco importa. Os manguezais de Goiana são conhecidos por possuírem, no passado, os maiores crustáceos do Brasil. Hoje, a especulação econômica das fazendas de camarão em cativeiro chegaram a comprometer a própria sobrevivência dessas espécies. Luiz da Gia criava os seus "azulões" em cativeiro, cevados com cuscuz, óleo de dendê e cascas de abacaxi. O bicho engorda de não poder andar. Luiz usava esses guaiamuns para servir os clientes do seu restaurante. 

Diziam-se adestrados, mas todos sabem que, quando aqueles bichos pegam um objeto, só largam quando o sino toca. Percebo que, oficialmente, tem sido complicado os anúncios de morte pela chikungunya, mas, de acordo com a família, Luiz Morais, assim como o ceramista Manuel Eudócio, teriam morrido em decorrência de complicações causadas pela doença, transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti. Veja o que Luiz da Gia dizia sobre a sua cidade: "Essa Goiana é meu sonho, essa Goiana é o meu lugar. Na minha biografia, que já escrevi, eu só saio do Buraco da Gia pra o buraco do cemitério. Eu quero meu corpo em Goiana. Não o quero lá fora não."

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