pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Crônicas do cotidiano: Joaquim Nabuco, um dândi apaixonado.
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quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Crônicas do cotidiano: Joaquim Nabuco, um dândi apaixonado.






José Luiz Gomes

 
Não nos lembramos bem qual a motivação - possivelmente a produção de um novo artigo - mas algo nos levou a pesquisar a carreira diplomática de Joaquim Nabuco. Descobrimos algumas coisas curiosas, como as escaramuças existentes no interior da diplomacia brasileira, envolvendo o diplomata pernambucano e os seus desafetos naquele Instituto. Desafetos que, aliás, não foram poucos, ao longo de sua vida pública, tampouco ficaram circunscritos ao Itamaraty. O escritor José de Alencar foi um dos seus grandes desafetos, publicando o romance Senhora com o propósito de afrontá-lo. José de Alencar era do Partido Conservador, enquanto Nabuco era de uma família ligada ao Partido Liberal. Ambos não se entendiam muito bem. 

O romance Senhora é a realidade do romance entre Joaquim Nabuco e Eufrásia Teixeira Leite, transformado em ficção literária. Claro, com alguns ingredientes maliciosos, com o propósito de atingir o abolicionista pernambucano. O talento de Alencar, no entanto, disfarça isso tão bem que é possível ler a história sem se preocupar com as essas entrelinhas: Era rica e formosa. Duas opulências que se realçam como a flor em vaso de alabastro. Dois esplendores que se refletem, como o raio de sol no prisma do diamante.

 Alguns fatos envolvendo Joaquim Nabuco somente abnegados pesquisadores - com acesso a fontes confiáveis - poderão vir a saber. Assim como acontece com os atores que se projetam em algum campo social, a sua biografia normalmente é construída "apagando-se" algumas informações desagradáveis, que poderiam por em dúvida essas reputações ilibadas. Isso faz parte de uma "estratégia de consagração".Muitas coisas já foram escritas - sobretudo por autores estrangeiros -acerca desse romance entre Joaquim Nabuco e Eufrásia Teixeira, que durou 14 anos, e nunca chegou ao altar. A produção brasileira sobre o assunto ainda é incipiente, mas vem novidade por aí.

Uma paixão avassaladora, como diriam os poetas. Dois desconhecidos embarcam num cruzeiro no Chimboraso e desembarcam noivos. Um romance recheado de idas e vindas, de atas e desatas e muitas especulações.  Eufrásia, ciumenta, não suportava os galanteios de Joaquim Nabuco às donzelas desavisadas. É uma daquelas histórias de amor típicas dos melhores romances de José de Alencar, não fosse pela tentativa de arranhar a imagem do abolicionista pernambucano, à qual o romance Senhora se propôs, embora, certamente, não tenha sido esse o único propósito de Alencar ao escrever aquele livro. O interessante é que, em alguns casos, as atitudes do próprio Joaquim Nabuco desmentiam cabalmente os seus críticos e os parentes de Eufrásia, acostumados com os chamados casamentos "dinásticos" para manter o patrimônio em família. 

Se dizia que Joaquim Nabuco desejava dar o golpe do baú, casando-se com uma jovem herdeira de uma grande fortuna, de uma tradicional família de Vassouras, no interior paulista. Joaquim era uma personalidade muito controversa, cujas contradições iam do campo político ao pessoal. Como explicar, por exemplo, sua vinculação ao Partido Liberal quando a família de Eufrásia era ligada ao Partido Conservador? Vai-se de entender um abolicionista convicto envolvido com uma família de escravocratas. O pai de Eufrásia chegou a possuir 150 escravos em sua fazenda de café. 

Para alguns historiadores, talvez resida aqui toda a preocupação de Joaquim Nabuco em não contrair núpcias com a bela Eufrásia. Os reais motivos vão ficar sempre no plano das especulações. Nem mesmo pela vasta correspondência trocada entre ambos, isso fica patenteado. Joaquim nunca demonstrou muito apreço pelo dinheiro, o que no sugerem outras motivações para o envolvimento com Eufrásia.

Por falar em correspondência, de acordo com Eneida Queiroz - em texto publicado na Revista de História da Biblioteca Nacional - quando romperam o romance, Joaquim Nabuco teria exigido de Eufrásia a devolução das cartas de amor, no que não foi atendido. Queimou-as ou teria sido enterrada com elas. Já as cartas de Eufrásia para Nabuco, segundo algumas informações, poderiam estar no acervo da Fundação Joaquim Nabuco, no bairro de Apipucos, em Recife. 

Uma das principais explicações para o não casamento entre ambos estaria relacionado ao fato de que Joaquim Nabuco não desejasse arranhar a sua imagem de abolicionista. Essa é a hipótese mais provável, levantada por todos biógrafos do escritor pernambucano. Num desses momentos de apertos econômicos, endividado, Joaquim Nabuco recusou a oferta de dinheiro de Eufrásia para saldar algumas dívidas, o que teria determinado o rompimento definitivo entre ambos. 
 
Com a morte de Eufrásia, como já dissemos, pouco afeito às finanças, mas um dândi incorrigível, Joaquim Nabuco, literalmente, torrou toda a fortuna da falecida. Charmeir dos salões, "Quincas, o Belo", não encontraria muitas dificuldades para gastar a grana.No livro que será lançado pela escritora Ana Maria Machado, Um Mapa Todo Seu, possivelmente os leitores saberão mais detalhes sobre esse relacionamento. O livro promete.
  

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