pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Crônicas do cotidiano: Arraes dá uma aula de política a Manuel Correia de Andrade.
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sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Crônicas do cotidiano: Arraes dá uma aula de política a Manuel Correia de Andrade.


José Luiz Gomes


Ainda quando dirigia o CEHIBRA/FUNDAJ, o geógrafo Manuel Correia de Andrade nos recebeu para uma longa entrevista. Era uma manhã chuvosa, de uma Terça-Feira, no bairro de Apipucos, aqui no Recife. Uma mesa de móvel antigo, empilhada de livros, e ele sempre escrevendo, um ofício a que se dedicava com uma disciplina invejável. A condição de geógrafo e historiador facultava a Manuel Correia de Andrade escrever sobre determinado assuntos com um conhecimento de causa assombroso. Ao falar sobre a vegetação de restinga de Mossoró(RN) ou mesmo sobre os cactos que crescem encravados nas rochas da Serra das Russas(PE), por exemplo, descrevia o ambiente como um nativo da região. Esse era um dos aspectos que mais nos aproximavam dos seus livros.

Não é tarefa das mais simples esquadrinhar as pessoas ideologicamente, mas talvez não estaremos cometendo algum equívoco se o identificássemos como uma pessoa de centro-esquerda. Sempre foi ligado ao (P)MDB, embora mantivesse o diálogo e transigisse com setores mais conservadores do espectro político. Como política é a arte do possível, foi esse trânsito que permitiu sua intercessão no sentido de que os microfones da Fundação Joaquim Nabuco fossem devolvidos ao professor Michel Zaidan Filho. 

A entrevista abordou várias questões relativas ao cenário político em Pernambuco, na década de 80. Um "mote" e aquela figura simpática ia desdobrando os assuntos, entremeando outros tantos, sem, contudo, perder o fio da meada. Mais do que uma entrevista, tornou-se um papo agravável sobre o idealismo petista da década de 80. Experiente, ele já antevia os rumos que o partido tomaria num futuro próximo. Manuel Correia de Andrade deixou dezenas de livros escritos, alguns clássicos, como A Terra e o Homem no Nordeste, escrito a pedido de Caio Prado Júnior.

Suas reflexões sobre os problemas fundiários da região Nordeste levaram o então governador Miguel Arraes a convidá-lo para integrar o seu governo. Arraes lia os seus livros e o convidou ao Palácio do Campo das Princesas para colaborar com a sua gestão. Essa talvez tenha sido uma das primeiras experiências administrativas do professor Manuel Correia de Andrade. Confessou que não se sentiu muito entusiasmado com o convite formulado pelo Dr. Arraes, sobretudo em razão da inexperiência em lidar com a classe política. Na primeira conversa entre ambos, fez questão de externar isso para ele. 

Depois de pigarrear e coçar o queijo - um velho hábito das raposas políticas - Arraes o convenceu, dizendo apenas o seguinte: Quando os políticos se dirigirem à sua sala e você precisar negar algum pleito, negue, mas ofereça um cafezinho.





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