pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Wagner Braga Batista: O fascismo nos convida para jantar.
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terça-feira, 18 de agosto de 2015

Wagner Braga Batista: O fascismo nos convida para jantar.









* Wagner Braga Batista

Ao adentrar num supermercado, deparei-me com uma cena grotesca. Duas mulheres, jovens, esbravejavam, ostensivamente. Uma delas gritava:

- Esta comida não se dá nem pra porco.

Prosseguiu:

- Ainda bem que AINDA não sou militar. Se fosse quebrava tudo.

Atônitas, pessoas dispostas nas enormes e costumeiras filas,  entreolhavam-se assustadas.

Os rompantes não cessaram:

- O culpado é este povo imbecil.

Imaginei que a furiosa fera estivesse interpelando algum destes Abilio Diniz, sócios de grandes redes de supermercados, franquias estrangeiras, que controlam a venda de bens no atacado, um destes atravessadores, que minam a economia popular, grandes frigoríficos, que cartelizam o preço da carne, fazendeiros, que utilizam trabalho escravo para alimentar bois, plantacions da sustentabilidade, que disseminam alimentos com agrotóxicos e nos envenenam, publicitários, que fraudam a quantidade e a qualidade de produtos ou habituais especuladores,  que inflacionam a inflação, para arrancar nossos olhos da cara.

Nada disto, a Mussolini de saias, agredia verbalmente uma das caixas. Intimidada e envergonhada, a moça sequer lhe dirigia o olhar.

Pendores autoritários, que estavam restritos a faustosas sacadas e varandas, nos últimos dias descem  dos pedestais da truculência.  Ganham as ruas e chegam às portas de supermercados. Trazem no bolso o protagonismo de sempre, culpam o pescoço pelo corte da guilhotina. Misturam militares, “povo imbecil” e intimidações como ingredientes do golpismo.  Esquecem-se da corrupção endêmica e da secular desigualdade social. Da anemia crônica da justiça e da democracia. Valem-se da crise fabricada para legitimar sua arrogância e autoritarismo.

Não seria temeridade dizer: a classe média sediciosa quer mostrar sua importância. Após subir na vida utilizando expedientes deploráveis, obter atestado de crédito e moralidade por meio cartões de agências bancárias, agora quer ser reconhecida por seus préstimos a quem nos sufoca.  Pleiteia acesso à sala de jantar de financistas e de oligarquias.  Não como convidada, mas como  serviçal. Satisfaz-se realizando serviços menores, algumas atividades insalubres e pequenas violações de  direitos, com as quais seus patrocinadores não se comprometem. Estes mantêm limpas suas mãos. Deixam o trabalho sujo para operadores, cães de guarda, criminosos comuns, jagunços do cerrado, ubermagistrados e habituais jornalistas do caixa dois.

Neste país desigual e injusto, os fatos não falam por si. Costumeiramente nos enganam. São subsumidos por suas versões. Ganham o colorido que donos de pautas e manchetes imprimem nas nossas cabeças. Como diz o samba canção, as dores da gente não saem nos jornais.

Há poucos dias, uma bomba pouco explosiva, causadora de falso atentado, importada da Venezuela, foi plantada em instituto em São Paulo, ardilosamente chamado Lula.  Coquetéis de gasolina, sabor suave e levemente inflamável, foram lançados de monomotor, para celebrar dias de férias de trabalhadores sem terra, acampados em Minas Gerais.

Alguns pareceres do Ministério Público são hilários. Isentam recursos e espaço públicos de malversação e uso privado, bem como abacaxis e jaboticabas de nascer nas pistas ociosas de Montezuma. Já que fraudes costumam fugir de gavetas, mandam arquivar  aeroportos e prender o mordomo.

Antiquados e eficazes aparelhos da burguesia estão sendo revitalizados pela modernosa restauração liberal.

Mas, versões e provocações se combinam. Ferem o senso crítico e desmerecem a consciência coletiva.

Outro dia, um cidadão, que se disse capitão de corveta, dirigiu-se a lançamento de livros no Rio de Janeiro. Afirmava trazer abraços de dois notórios fascistas para o autor, o frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, Frei Betto. Tratava-se de uma provocação? Jamais. Apenas um gesto de cordialidade.

Pequenos, mas emblemáticos fatos são reveladores da cultura que nos cerca.

O fascismo, reabilitado pela furiosa vanguarda liberal, não precisa recorrer às armas convencionais para golpear a democracia. Dispõe de armamento mais sutil e sofisticado. O dinheiro de bancos, parlamentos alugados por grandes empresas, indústrias da falsificação e da  inverdade, reverberações premiada pelo marketing da catástrofe,  ONGs sustentáveis e humanitárias de George  Soros, tribunais da injustiça, que sentenciam quem querem e bem  entendem.  Se este arsenal for insuficiente, apela para aparatos repressivos de costume, a exemplo do que ocorreu no Paraná e em São Paulo.

O fascismo é consórcio de gente parasitária. De camadas médias, autodenominadas empreendedoras, que se sentem ameaçadas pela ampliação de direitos, e de lumpens, dispostos a qualquer coisa em troca de favores. É a massa de manobra preferencial da aristocracia improdutiva, financeira e latifundiária, em franco processo de degenerescência. Esta gente não enxerga horizontes socializatórios. Ressuscita e mobiliza seus espectros, o ódio às minorias, a criminalização de movimentos sociais, a aversão a sindicatos, o jugo de mulheres, as máquinas  de terror, o belicismo e prisões, a discriminação de homossexuais, o desprezo por crianças e adolescentes. Reinventa, modernamente, sua barbárie passada com auxílio do marketing e da manipulação das “belas causas”.  Insidioso, convida-nos para sua celebração hedionda. Franqueia sua sala de jantar.

Cuidemo-nos, todos, para não ser parte do seu cardápio.


* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição

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