pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Relatório da UNESCO sobre educação na América Latina: Ainda a nódoa do analfabetismo entre adultos no Brasil.
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quinta-feira, 7 de maio de 2015

Relatório da UNESCO sobre educação na América Latina: Ainda a nódoa do analfabetismo entre adultos no Brasil.

 

José Luiz Gomes escreve:
 
Não faz muito tempo, a Fundação Joaquim Nabuco divulgou uma pesquisa realizada com os alunos egressos da expansão do ensino superior público pelas cidades do interior da região Nordeste. Os governos de coalizão petista, Era Lula/Dilma, serão identificados, no futuro, como aqueles que mais contribuíram para o ingresso de jovens empobrecidos, entre 18 e 24 anos, no ensino superior público, através de programas como o Reuni.


Essa política de oportunizações envolvia, não apenas a ampliação física das unidades de ensino superior pública, sobretudo em cidades do interior, mas, igualmente, os Institutos Federais – as antigas escolas técnicas, que contou com uma expansão expressiva. Outros programas de incentivo à formação técnica – caso do Pronatec – também são desse mesmo período. Talvez por isso o Governo brasileiro fique tão incomodado com os números apresentados pelo relatório da UNESCO, que nos colocam numa situação vexatória, na condição de um país que cumpriu apenas 02 das metas traçadas na última reunião do grupo, a da universalização do acesso ao ensino básico e a meta da igualdade de gênero.


Sob certos aspectos, de fato, ocorreram avanços dos mais significativos na educação brasileira nos últimos anos. Basta considerarmos os dados apontados acima. Por outro lado, além desses indicadores não constarem das grandes metas traçadas pelo órgão, ainda fomos reprovados em 04 delas, inclusive uma que indica os graves problemas de mantermos os altos índices de população adulta analfabeta, uma estimativa que aponta para um pouco mais de 13 milhões de pessoas, um escore considerada alto, mesmo para os padrões latino-americanos.


Não vamos aqui brigar com os números, como o Governo Brasileiro insiste em fazer com os dirigentes da UNESCO. Esse procedimento de pedir revisão da nota – os professores sabem disso – nem sempre resulta em resultados satisfatórios. Até porque, se voltarmos à pesquisa da Fundação Joaquim Nabuco, vamos constatar um dado que apenas nos facultam a entender as duas faces do problema. Se por um lado avançamos – e isso é verdade – por outro não há como negar que deixamos de fazer o dever de casa em relação à população adulta analfabeta, entre outras questões.


De acordo com essa pesquisa, 83% dos pais desses alunos que concluíram sua formação superior no bojo da expansão e interiorização das IFES não tiveram a oportunidade de fazer uma faculdade. Sempre costumo afirmar – no tocante aos aspectos positivos – que fizemos uma verdadeira revolução. Por outro lado, mesmo com governos que demonstraram profunda sensibilidade social para o problema da educação, as políticas de educação para a população adulta ficaram muito aquém do esperado. Ou seja, as políticas públicas de educação supletivas para a população adulta sempre foram consideradas como de segunda categoria, como informou um pesquisador ouvido sobre o assunto. 

O EJA, para citarmos um exemplo, sempre viveu uma profunda crise de identidade. Seus problemas mais nevrálgicos nunca foram devidamente enfrentados. O currículo é improvisado – se parecendo uma colcha de retalhos formada por conteúdos emprestados do ensino fundamental; o perfil do alunado também dificulta bastante o trabalho dos professores, já que alunos “fora de faixa” do ensino tradicional acabam ingressando no programa. Os problemas estruturais de programas como o EJA refletem, em última análise, o caráter de menor importância concedido às políticas de educação destinadas à população adulta. Mesmo nos governos de coalizão petista, este cenário parece que não foi alterado, a julgar pelo expressivo contingente de analfabetos adultos ainda existentes no país. 


Analfabetismo e pobreza são irmãs siamesas. O perfil do analfabeto adulto brasileiro é: mulher, negra, idosa. As regiões Norte e Nordeste do país sempre concentraram um percentual maior da população adulta analfabeta. Ocorre no Brasil um fenômeno curioso - mais um. Nos últimos anos, 22 milhões de pessoas saíram da linha de extrema pobreza, em razão das políticas redistributivas de renda, embora não fossem verificados, como denuncia os dados, avanços significativos no combate ao analfabetismo entre a população adulta do país. 


Aponto a questão apenas como “curiosa”, uma vez que precisaríamos aprofundá-la através de pesquisas específicas. Recentemente, Dilma entregou ao professor Roberto Mangabeira Unger, ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, a missão de elaborar o programa “Brasil, Pátria Educadora”. Já tivemos a oportunidade de falarmos sobre este assunto numa outra postagem. Nenhuma surpresa ao se constatar que a prioridade seja a educação básica. 


Não vai aqui necessariamente uma crítica, mas penso ser um descaso abandonarmos essa população adulta à sua própria sorte. Quando o professor Fernando Freire assumiu o comando da Fundação Joaquim Nabuco e estávamos (?) naquele dilema sobre como nos inserir nas políticas públicas do Ministério da Educação, tratamos, em e-mail, sobre este assunto. Infelizmente, em nosso país, é muito complicado envolver-se com essa questão. Parece que perdemos o timming com aquele “aborto institucional” ocorrido na década de 60, com o golpe civil-militar, onde até então a UNE se envolvia com essa problemática do analfabetismo. 


Observo que até mesmo as nossas postagens tratando deste assunto aqui no blog dão poucos acessos. Parece não haver demanda para a causa da população adulta analfabeta. E, em sendo assim, governos e partidos parecem empregar a máxima utilizada pelo professor Clóvis de Barros, da USP, num curso de Ciência Política que estamos acompanhando. Ou seja, “não adianta uma oferta sem demanda.” Preocupar-se ou investir nesse contingente não dá retorno. Simples assim? 

P.S do Realpolitik: Desse percentual de 83% dos pais desses alunos que não concluíram uma faculdade, apenas esse dado nos é informado. Não se sabe - e penso que a pesquisa não se preocupou com isso - qual o percentual deles, por exemplo, eram alfabetizados, concluíram o ensino fundamental ou o ensino médio. Em todo caso, reafirmo aqui a nossa tese sobre o descaso. O professor Sérgio Abranches, da UFPE, afirma que realizou uma palestra para um grupo desses alunos e, ao final, teve a curiosidade de perguntar aos pais - que estavam na plateia - quem ali os pais haviam concluído um curso superior. Ninguém levantou a mão.  
  

                  

                     

                     

                   

                   

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