pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: O PT acabou? Ainda não.
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segunda-feira, 11 de maio de 2015

O PT acabou? Ainda não.





José Luiz Gomes escreve: 



Ontem, 10/05, o jornal Folha de São Paulo trouxe um artigo do cientista político Octávio Amorim sobre uma possível derrota do Partido dos Trabalhadores nas eleições de 2018. O PT passa por um momento que exige algumas mudanças de rumo, mas, até 2018 muita água ainda deve correr pelo rio da História, sendo mínimas as possibilidades de alguém prever, com segurança, a derrocada do partido naquelas eleições. Mesmo que esse alguém seja um respeitado cientista político, que atua no campo acadêmico, cujo capital ainda está em alta. Algumas dessas aves de mau agouro - caso do historiador Marco Antonio Villa - já perderam completamente a credibilidade, sobretudo pela indisfarçável torcida em suas análises "acadêmicas". 

Numa democracia representativa, perder é uma das possibilidade possíveis. Penso até que o PT aprendeu bem essa lição. Quem parece que não aprendeu ainda foram os tucanos, a julgar pelas dificuldades de encarar democraticamente a derrota das urnas nas últimas eleições. Mas, o assunto aqui é o PT. O artigo foi muito bem lido pelo também cientista político Cláudio Gonçalves Couto​, que, como nós, iniciou sua trajetória acadêmica estudando o Partido dos Trabalhadores. Tenho muito respeito pelo Couto, que começou dando aulas na Unicamp e hoje atua na Fundação Getúlio Vargas. 16 anos de poder ininterrupto desgastam qualquer agremiação partidária. Com o PT não tem sido diferente. Soma-se a isso alguns equívocos que poderiam ser evitados. Daqueles equívocos ou erros de avaliação que não tem perdão.  

A erosão do capital político do partido, proporcionalmente observado a partir do fortalecimento das forças de oposição, também é inegável. Um exemplo claro disso são os nacos de poder ocupados por setores políticos conservadores, numa tentativa de "equilibrar" a correlação forças. As concessões foram tantas que alguns analistas chegaram a afirmar que a presidente Dilma Rousseff fazia um governo "tucano". A economia não vai bem e nada nos animam a afirmar que poderíamos estar em céu de brigadeiro em 2018. A corrupção da Petrobras produz um desgaste devastador, respingando no núcleo central da coalizão petista, mesmo quando se sabe que não ocorreu envolvimento direto de Dilma e Lula naquelas falcatruas. Eles, porém, são vítimas de "consensos" formados pelos meios de comunicação massa aliados da oposição ou de caráter golpistas. 


Outro grande problema são os "aliados" do PMDB. Com aliados dessa natureza, eles, certamente, nem precisariam de inimigos. As medidas de "ajuste fiscal", alardeadas como absolutamente necessárias, penalizam profundamente os trabalhadores e aposentados, o que implica no aprofundamento da crise de capital político justamente entre setores que, historicamente, sempre estiveram do lado do partido. Um aspecto positivo nesse imbróglio todo é que, finalmente, o partido parece ter entendido ser necessário manter os projetos estratégicos que sempre caracterizam os governos de coalizão petista - como os investimentos em educação - que alcançam setores sociais historicamente marginalizados. Ainda hoje ouvi do filósofo Renato Janine Ribeiro​,  a declaração de que as cotas só acabam quando acabar o racismo no país. Daqui a alguns séculos, imagino. Mangabeira Unger, através da Secretaria de Assuntos Estratégicos, ao seu estilo, prepara um mega-projeto para o "Brasil, Pátria Educadora."

Embora não haja uma articulação entre os dois ministérios - há muito ego em jogo - nada nos leva a considerar a possibilidade de um conflito aberto entre os dois ministros. O que nos preocupa é que, enquanto Renato Janine fala em tomar como norte o PNE em sua gestão, do outro lado, Mangabeira Unger não considerou o PNE em suas considerações. Em todo caso, temos duas das maiores inteligências do país pensando as questões de educação, o que, por si só, já é um dado bastante alvissareiro. O importante é que o caráter estratégico da pasta tenha retomado o seu status.

Numa seara tão cheia de armadilhas como a política é uma atitude, no mínimo, arriscada predizer resultados. O PT já sobreviveu a muitos reveses. Claro que há problemas e o risco de perder as eleições de 2018 é iminente, como já o foi em 2014. Em seu último depoimento na CPI da Petrobras, o delator Paulo Roberto Costa, por exemplo, citou nominalmente gente do partido envolvido em possíveis recebimentos irregulares de doações para as suas campanhas. Vaccari está com prestígio mais baixo do que poleiro de pato, com a cueca toda suja de batom. O pior é que há indícios de que sua mulher sabia de suas escapulidas eventuais. O rolo-compressor em torno do escândalo da Petrobras é "trabalhado" sistematicamente pela mídia com propósitos específicos, desde as últimas eleições, numa articulação muito bem planejada, com  o propósito de ferir o partido de morte. Seria muito interessante que este cientista político também se desse conta dessa urdidura com o propósito de destruir o PT. 


Outro dia, recebi aqui na repartição, uma lista das novas aquisições da biblioteca. Lá estava, no topo da lista, o livro do senhor Marco Villa, tratando justamente do fim do PT. Há um desejo de destruir o PT e esse desejo envolve um engendramento complexo, com participação de vários segmentos sociais. O PT cometeu muitos equívocos, mas vai deixar para o país uma agenda de políticas públicas bastante positivas no que concerne ao quesito "cidadania", voltado para andar de baixo da pirâmide social, algo negligenciado historicamente.

Num país como o nosso, de profundas desigualdades sociais, esse capital político tem um peso incomensurável. Foram 22 milhões de pessoas que saíram da condição de extrema pobreza; o maior programa de ingresso de jovens empobrecidos ao ensino superior público, entre 18 e 24 anos,  através do Prouni; o maior e melhor programa de distribuição de renda do mundo, reconhecido internacionalmente. Dava pena do candidato Aécio Neves quando a então candidata Dilma Rousseff comparava os dois governos, o dos tucanos e o da coalizão petista. Quantas escolas técnicas mesmo foram construídas pelo seu padrinho político, senador? Essas questões também virão à tona em 2018, Octávio Amorim. Segmentos expressivos da sociedade brasileira conhecem muito bem o que foram os anos FHC.


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