pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Mais Paulo Freire, menos Paulo Coelho
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segunda-feira, 30 de março de 2015

Mais Paulo Freire, menos Paulo Coelho


Antes do golpe militar, lá no Nordeste, Freire foi conversar com um grupo de camponeses. Em poucos minutos eles se calaram e houve um grande silêncio. Até que um deles falou:
— O senhor me desculpe, mas é o senhor que deve falar, e não nós.
— Por quê? Perguntei eu.
— Porque o senhor é o que sabe, e nós não sabemos.
— Aceito. Eu sei e vocês não sabem! Mas por que é que eu sei e vocês não sabem?
— O senhor sabe porque foi à escola, e nós não.
— Aceito. Fui à escola e vocês não foram. Mas por que é que eu fui à escola e vocês não foram?
— Ah, foi porque seus pais puderam, e os nossos não.
— Concordo. Mas porque seus pais tinham condição, bom trabalho, bom emprego, e os nossos não.
— Tá certo. Mas, por que os meus tinham e os de vocês não?
— Porque os nossos eram camponeses. Meu avô era camponês, meu pai era camponês, eu sou camponês, meu filho é camponês, meu neto vai ser camponês.
(Aí, a concepção fatalista da história)
— O que é ser camponês?
— Ah, é não ter nada, é ser explorado.
— Mas, o que é que explica isso tudo?
— Ah, é Deus! Deus quis que o senhor tivesse e nós não.
— Tá certo, concordo. Deus é um cara bacana, um sujeito poderoso! Agora, eu queria fazer uma pergunta: quem aqui é pai? Todo mundo era. Olhei para um e disse:
— Você tem quantos filhos?
— Tenho seis, disse ele.
— Você seria capaz de botar cinco filhos aqui no trabalho forçado e mandar um pra capital com comida, hotel, pra ele estudar e ser doutor, e os outros cinco morrendo no porrete e no sol?
— Não, não fazia isso não!
— Então você acha que Deus é poderoso, que é pai, ia tirar essa oportunidade de vocês? Será que pode? Houve um silêncio e por fim um falou:
— É não, não é Deus nada! É o patrão!

(Publicado hoje, no perfil do cartunista Vitor, que teve a charge dos gladiadores censurada pela Igreja Universal)

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