pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Professor de Oxford traça perfil da "Nova Direita" no Brasil
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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Professor de Oxford traça perfil da "Nova Direita" no Brasil

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Perfil da “nova direita” no Brasil (Imagem: Pragmatismo Político)
Faixas “Fora, Dilma” e “Fora, comunistas” em meio a gritos de “Somos coxinhas”. Assim, cerca de 500 manifestantes pediram o impeachment da presidente Dilma Rousseff no fim de semana passado, em São Paulo.
As manifestações de grupos de direita esquerda têm se intensificado no país desde as eleições presidenciais. Em novembro, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) fez uma marcha na Avenida Paulista contra o ato de eleitores anti-PT descontentes com o resultado das urnas.
Mesmo diante da divisão política expressada nas ruas, especialistas argumentam que o Brasil não vive uma polarização nos moldes de Estados Unidos e Venezuela. A divisão, afirmam, é apenas passageira.
O país vive, na verdade, uma ressaca política depois de uma eleição muito apertada. As pessoas estão usando a palavra ‘polarização’ de uma maneira bastante equivocada”, avalia Timothy Power, diretor do Programa de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford.
Para o filósofo Paulo Eduardo Arantes, professor aposentado da USP, a disputa entre PT e PSDB foi apenas eleitoral e não representa uma divisão profunda da sociedade.
A polarização da campanha, o ‘nós’ contra ‘eles’, era muito rasa. Com o tempo isso vai desaparecer com as composições que serão feitas no governo”, explica ele, citando a nomeação da senadora Kátia Abreu (PMDB), ligada ao agronegócio, para o Ministério da Agricultura.
Para Power, o descontentamento de uma pequena parte da população se concentra na escolha para presidente, por causa dos programas sociais criados pelos governos petistas desde 2002.
Para outros pleitos, como governos estaduais e prefeituras, o Brasil não apresenta um quadro tão polarizado”, diz o brasilianista.
Nos Estados Unidos, a bipolarização partidária permeia todos os níveis da esfera política, dos estados ao Congresso, com eleições permanentemente apertadas. Apesar de no Brasil a eleição presidencial ser majoritária, o Congresso Nacional apresenta, segundo Power, uma fragmentação muito grande.
As pessoas que estão protestando contra o PT nas ruas devem perceber que a representação do partido no Congresso é hoje menor do que em 2002″, avalia. “O avanço da legenda no Brasil é um fenômeno presidencial. Não tem muito a ver com outras esferas de governo.”
“Nova direita”
Arantes acredita que há uma polarização assimétrica entre uma “nova direita”, surgida após as manifestações de junho de 2013, e a “esquerda oficial”. “Nos protestos, apareceu uma direita social e insurgente, que foi para as ruas em grande número para se contrapor ao status quo de um ponto de vista conservador”, analisa.
O filósofo argumenta que já existia no Brasil uma “direita residual”, que tende a propor intervenções militares. Enquanto este é um segmento minoritário, a “nova direita” tem um maior apelo popular.
Para ele, a assimetria se deve a uma radicalização da direita, que, no entanto, não foi acompanhada pela esquerda. “Uma polarização supõe dois termos antagônicos e extremos, só que um dos polos está em falta. A esquerda institucional, de governo no Brasil, é muito moderada, muito propensa à negociação”, aponta.
Arantes alerta que esse segmento não busca fazer alianças para compor maiorias, mas visa unicamente dificultar o governo do PT. “No Brasil, Jair Bolsonaro [deputado federal], por exemplo, não têm a pretensão de criar um governo de coalizão”, diz. “O Brasil se aproxima do que acontece nos EUA, em que a direita existe para impedir o Obama de governar.”
As redes sociais são o principal instrumento de mobilização desses grupos, segundo Power. Para o professor da Universidade de Oxford, os manifestantes que pedem o impeachment de Dilma se aproveitam da atenção midiática no período de ressaca pós-eleições. O grupo é minoritário e tem uma posição política que não é compartilhada pelos grandes partidos de oposição.
Pedir impeachment é pura fantasia. Esse não é o mesmo cenário de 1992, quando as alegações contra Fernando Collor eram muito fortes e ele tinha pouquíssimo apoio do Congresso”, considera.
Os protestos recentes representam um movimento anti-PT, “até antissistêmico, de certa forma”, diz Power. Ele avalia que a facilidade de mobilização pelas redes sociais ajuda os pequenos movimentos de direita, que nunca tiveram muita penetração na sociedade. “Isso é assimétrico em relação à esquerda, que sempre teve boa capacidade de mobilização popular nos sindicatos e movimentos sociais.”
Power acredita que a internet “equilibra o jogo”, mas de uma maneira superficial. “Hoje, a direita acha que uma conta no Twitter vale mais do que uma CUT, por exemplo, mas não é exatamente assim. Atrás do poder de mobilização das redes sociais, a direita não conta com movimentos organizados”, afirma.
Karina Gomes e Marina Estarque, DW
(Publicado originalmente no Pragmatismo Político)

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