pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: O mal-estar do produtivismo na academia
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domingo, 2 de novembro de 2014

O mal-estar do produtivismo na academia



Como disse criticamente uma doutora em Educação: “Um mal-estar assombra a Academia: o mal-estar provocado pelo fetiche do conhecimento-mercadoria e o seu canto de sereia – o produtivismo.” Impera um fenômeno nacionalmente onde o conhecimento está sendo convertido de valor de uso em valor de troca. E nos programas de Pós-graduação Brasileiros, aferrados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), instrumento cientométrico por excelência, a produtividade têm níveis, aliás, têm Qualisficações, no mercado universitário, aplicados aos artigos publicados em periódicos, modalidade prioritária segundo a capes – os livros perdem seu valor, se comparados aos artigos.


Engendra-se uma espécie de periodicocracia do conhecimento na academia, ou em tom mais geral a norma produtivismo, que como regra “prescreve padrões aos quais indivíduos e instituições devem adequar-se, acarretando formas de normação que preveem recompensas e punições” . Ao invés de incentivar serve antes a um controle que tolhe e traumatiza. O que ocorre é uma acefalia onde o conhecimento não mais vale pelo seu conteúdo mesmo, mas sim onde foi publicado, vista a classificação da Qualis. É o processo de acumulação de capital curricular, vigente há muito no Brasil, refletido no endeusamento patente do Curriculum Lattes.

Como bem coloca Eunice Trein e José Rodrigues , não podemos, e nós da área de Humanas em particular, concordar com a continuidade desse modo de produção de conhecimento que conduz a sociedade brasileira ao télos de uma economia competitiva, que homogeneíza todas as áreas do conhecimento e obscurece o fato que a decisão de investimento em dada área é antes de tudo política.

Apesar de reconhecermos ser imprescindível - a critério de prestação de contas para a academia e sociedade em geral - avaliar de alguma maneira os resultados, sobretudo quando se trata de recursos públicos, mas não do modo como está sendo realizado: Um modelo que preza primeiro o quantitativo e a qualidade é elemento subsidiário. E, nesse ínterim, pelo meio publicizado (periódico), o acesso ao povo dos resultados das pesquisas ainda é uma quimera - a linguagem truncada e técnico-especifista impõe rígidos limites à majoritária da população.

Lamentavelmente, o discurso sofismático de uma dita excelência do professor ou do Programa de Pós-Graduação, ambas medidas por essa perversa lógica de quantificação intransigente é o canto da sereia que ainda encanta a muitos, os quais para atingir seu objetivo de estarem no topo do Pódium do produtivismo se valem de expedientes os mais escusos, inclusive a expulsão de colegas de trabalho – os “improdutivos”, para majorar a nota na CAPES.

E o Programa de Pós-graduação em História da UFPE, que há pouco teve sua nota rebaixada, trará uma crítica em forma de denúncia numa postura contra-hegemônica ou então endossará esse sistema de controle e punição, compactuando com essa lógica nefasta e que em nada contribui para o povo Brasileiro, convertendo-nos, pesquisadores da História, em desumanos das Humanas? Apesar dos indícios apontarem no sentido contrário, torcemos na adoção de uma postura crítica, necessariamente à contrapelo da aristocracia acadêmica dominante. Ainda que frustrada essa expectativa, iremos à luta para apontar os equívocos e por em primeiro plano o compromisso social pelo qual a Universidade Brasileira deve pautar-se, que indubitavelmente não é o do mero produtivismo.

Diretório Acadêmico de História Francisco Julião (DAHISFJ).

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