pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Michel Zaidan Filho: Qual é o papel do cientista político?
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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Michel Zaidan Filho: Qual é o papel do cientista político?



Indagados sobre a discrepância de resultados, no primeiro turno das eleições no Brasil, os  responsáveis pelos principais institutos de pesquisa do país (Ibope e Datafolha) responderam que o contingente de eleitores indecisos teria subido para 30% durante a campanha eleitoral. E que eles medem não a preferência decisiva do eleitor na urna, mas tão-só as intenções de voto, que podem mudar até o último minuto da votação. Com margens de erro tão pequenas (5%) e amostras tão grandes (14.000 entrevistas), como é possível usar essas pesquisas como forma de conhecimento do comportamento eleitoral, em momentos decisivos das competições políticas? 
                        
                     Mais anti-climáticas e pouco críticas são as "análises" dos cientistas políticos, que se limitam a justificar, com base numa sofisticada linguagem acadêmica, os resultados eleitorais (sejam eles quais forem) afirmando que "foram assim", porque "tinham que ser assim" (como "podiam ser de outro jeito"",se fossem de outro jeito"). Ciência precária, que atua através da racionalização dos acontecimentos, oferecendo explicações - a posteriori - dos fatos. 0 papel da Ciência Social não é defender ou justificar "o status quo", por mais lucrativo e prestigioso que seja essa atividade de comentarista político-esportivo,  dizendo o óbvio, descrevendo a realidade, a título de análise ou estudo. O papel da Ciência é desmistificar a aparência das coisas e atingir a essência da realidade. E só se faz isso, sem o compromisso de agradar ou atender certos interesses predominantes na sociedade. O cientista político não busca respeitabilidade e aceitação social (com tudo o que isso significa). Busca entender as contradições da sociedade e  procurar ajudar a solucioná-las com suas teorias e  métodos.
                       Todo esse introito tem como objetivo analisar as "análises" produzidas- em nome da Ciência Política - sobre o resultado das eleições. A primeira análise de um conhecido sociólogo afirma que não temos hoje em Pernambuco uma nova oligarquia política (e familiar) por que "Eduardo trouxe caras novas" para o proscênio da política estadual. Geraldo Júlio, Tadeu Alencar, Paulo Câmara etc. Nomes e caras novas. Mas será esse o critério para avaliar se há ou não uma oligarquia política em Pernambuco? - Caras novas? - Ora, o problema não é a cara, nem a idade, nem a geração. O problema é a engenharia política responsáveis por uma continuidade administrativa (já vai para 12 anos) do mesmo grupo político e ideológico no poder. Que agora quer lançar na política novas caras novas: a mulher do ex-governador, o filho do ex-governador, o filho da governanta do ex-governador, o primo, o cunhado, o con-cunhado, o tio etc. Se isso não for uma oligarquia política, deve ser uma variante do familismo amoral, de  que fala o sociólogo americano Banfield, típico de países de baixa socialização política, como a Itália, Portugal, Brasil etc.
                       E não venham dizer que ganhou a eleição pelos méritos, a qualidade, a competência administrativo e coisas do gênero. Certamente, se não fosse pelo apoio do chefe (e sua família) e a "caixinha", incluindo o uso da máquina pública, nem o melhor e mais perfeito administrador do Brasil ganharia esta eleição.

                       A segunda análise é mais problemática ainda. Discutindo-se a ampla coligação partidária que deu suporte à eleição do candidato governista (coligação que inclui o DEM, o PMDB, o PPS, o PSDB, o PROS, O PSD  e outros partidos), a junção de tantas letrinhas díspares ou contrárias foi justificada, num debate, pela mudança de correlação local de forças. Alegava o analista que, com a saída do PT e do PTB da base aliada do ex-governador, era natural que a recomposição da aliança se desse com esses partidos, configurando uma nova "hegemonia" política em Pernambuco: de direita ou centro-direita. É mesmo? - Mas como é possível tal aliança se, no âmbito  municipal, estadual e federal, esses partidos  farão oposição ao governador eleito? Seria essa uma aliança de Polichinelo? - De manhã, são oposição, de tarde, situação. E de noite, tanto faz....
                      Por que não admitir a fragilidade do sistema partidário brasileiro?  Por que não dizer que muitos desses partidos são de aluguel, de quem dá mais, ou de quem tem algo a oferecer? - 0 processo de aliciamento, corrupção, compra de legendas para a viabilização de candidaturas e mandatos é crime, crime eleitoral. E não é porque trai, falseia a vontade do eleitor (que vota num e vê outro eleito). É crime porque muitas vezes esses recursos são "dinheiro não contabilizado", "caixa dois", "recursos públicos desviados" para essa operação  de compra-e-venda de apoios políticos. Justificar uma coisas dessas, só se o analista apoia algum candidato que se beneficie dessa fabulosa coligação ou trabalhe para ele.
                      A propósito, a Justiça Eleitoral não vai investigar nenhum dos indícios de uma milionária "caixa 2" nessas eleições? Vai ficar o dito pelo não dito? Tudo o que   foi noticiado pela imprensa e consta de autos de processos investigativos na Justiça Federal? Cadê a lei da ficha limpa? - Onde anda (se anda) a reforma política? - Onde está a campanha pela moralização das eleições?
                      Tudo "dantes, como no quartel de Abrantes"? - Até a próxima eleição.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco.

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