pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Michel Zaidan Filho: Aos vencedores, as batatas.
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domingo, 5 de outubro de 2014

Michel Zaidan Filho: Aos vencedores, as batatas.




A família Campos, de literatos como o escritor Maximiliano e o sociólogo Renato Carneiro Campos e o dublê de literato e político Antonio de Campos, acaba de produzir o fundador de uma nova oligarquia política - Eduardo Accioly Campos. 0 festim macabro  realizado por ocasião da morte (nunca esclarecida) do ex-governador de Pernambuco, com apoio da mídia e do governo do Estado, pode não eleger a irmã Marina Presidenta do Brasil, mas pode eleger o preposto - primo em 5. grau e esposo da prima de Eduardo. Nesta véspera de eleição, gostaria de aplicar à campanha e a candidatura do primo - secretário, as categorias da "dialética da Malandragem", conforme se depreende da obra do tio sociólogo, "A ideologia da literatura de cordel", e seu principal personagem - "o amarelinho da Zona da Mata".
                          Como se sabe, a ideologia picaresca de "João Grilo"  se constitui da lábia, da pequena esperteza dos malandros rurais, da capacidade de ganhar de todos com a bazófia, a conversa mola ou fiada, como se diz no interior. Sem o refinamento literário seja da prosa do pai ou da análise social do tio, o processo de indicação do candidato, a forma de financiamento de sua campanha e a propaganda política de sua candidatura tem tudo para se constituir em um excelente tratado de política picaresca ou do picaresco na política. Uma leitura da expressão corporal do candidato, no guia eleitoral, sugere que se trata de um personagem apolítico, que se apresenta como um técnico ou especialista de  reconhecida competência  no trato das questões administrativas do Estado. Mas o detalhe revelador é o gesto de deslocamento com o pescoço, na afã de convencer o eleitor, que ele faz, como se  quisesse  corporificar  a tentativa de convencimento, através do gesto.
                          A  linguagem gestual é indicativa de uma postura de captura ou apresamento do leitor-espectador. Vestido numa camisa branca, com as mangas abotoadas nos punhos, a imagem poderia sugerir um pastor evangélico, num culto, procurando convencer os fiéis da verdade da palavra de Deus. Mas esta comparação seria ofensiva aos evangélicos. Ela estaria mais para o exemplo das artimanhas do "amarelinho da zona da Mata", João Grilo, e suas tentativas de "ganhar" o ouvinte-eleitor através da lábia, da pequena esperteza. Mas essa comparação também é desfavorável ao nosso pícaro ou herói picaresco. Nada se compara à formidável  "caixa de campanha" que acompanha as peripécias desse novo herói das eleições. 0 que faz dele uma cópia pobre do seu primo da literatura de cordel. As presepadas do personagem só podem ser entendidas, se partimos do princípio que o que elege o candidato é a "caixinha" e o "santo protetor". Assim, qualquer outro figurante, ator ou intérprete do papel de candidato ao governo do Estado poderia ter a performance deste, caso fossem mantidas as mesmas condições. 0 que quero afirmar é que o candidato é um ilustre desconhecido, um burocrata da secretaria da Fazenda, que nada fez para ganhar o voto do eleitor (a não ser renúncia fiscal). Desta maneira, fica a indagação: quem ganha ou ganhou a eleição? - 0 personagem ou a "entourage" familiar do santo protetor? A que interesses serve ou vai servir tal candidato?
                         Teremos a reprodução de mais uma oligarquia familiar, na política de Pernambuco, com a grande maioria de partidos a seus pés, comprada a peso de ouro (PMDB,PPS, PSDB, PC do B, DEM) e os pequenos partidos de esquerda, desunidos, incumbidos da crítica ideológica ao vencedor. A oligarquização do espaço político do nosso Estado tem a ver certamente com a fraqueza e o clientelismo das organizações partidárias. Pelo visto, ser oposição é não ser, no momento, situação. Não há propriamente essa palavra no dicionário político local. Sempre será possível comprar, cooptar, seduzir aquilo que, entre nós, se chama de oposição, a depender do que se pode oferecer, em cada pleito eleitoral: fundos de campanha, coligação, espaço na propaganda, legenda etc. E a situação é aquele  que pode comprar, corromper, financiar etc.
                          Não se busque ideais, programas, ideologias ou utopias nessas eleições, entre os principais contendores. A única coisa que move esses partidos é o puro e simples oportunismo.
                          Aos vencedores, as batatas!, como dizia Machado de Assis.

Michel Zaidan é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco. 

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