pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Michel Zaidan: O morto carregando o vivo
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segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Michel Zaidan: O morto carregando o vivo


Essa frase designa uma das mais pitorescas alegorias do carnaval popular de Pernambuco. Como o grotesco e o alegórico fazem parte do modo de ser da nossa cultura, temos que convir que as eleições deste ano vão se realizar sob o signo da morte e da religião. Aparentemente, essa alegoria carnavalesca parece não ter relação nenhuma com a política e a fé. Mas aí é onde se enganam uns e outros. O cristianismo é o legítimo herdeiro das tradições pagãs da Grécia arcaica (basta lembrar o culto de Dionísio e o banquete totêmico). E a convivência harmônica e proveitosa entre vivos e mortos nas grandes casas nordestinas. 0 Culto (e o canibalismo) dos mortos é parte integrante da vida dos que estão  vivíssimos e querendo tirar algum proveito da morte.
Estava eu no Maranhão, quando vejo aparecer no guia eleitoral do PSDB nada mais,nada menos do  que  a  imagem   do  falecido,rindo,caminhando, abrindo   os braços e mandando votar num  tal de  Pedro Rocha,para  o  senado federal. Ainda no Maranhão,   soube que   a família  campos (leia-se   a viúva)  tinha  pedido à  Justiça  Eleitoral   a   proibição  do uso  da imagem  de  Eduardo Campos   pelos partidos e  candidatos,nestas    eleições.

Qual não foi a minha surpresa em ver em cada esquina, ponte, viaduto, avenida, canal  do Recife imensos posters e bannes com o retrato do falecido!   O Recife transformou-se numa necrópolis, onde os vivos rendem homenagem aos mortos e invocam a sua presença permanentemente para garantir suas conquistas e vitórias. Se estivéssemos em Roma, não haveria problema nenhum. Segundo um conhecido historiador francês, era obrigação das famílias erigir altares dentro das casas para o culto dos ancestrais. Entre nós, inaugurou-se ou reatualizou-se um antigo ritual, descrito por Gilberto Freyre, de manter os mortos convivendo com os vivos. Antigamente, era sinal do respeito e veneração à memória dos falecidos. Hoje, é uma deplorável exploração eleitoral, que deixa os eleitores em dúvida: quem vai ser eleito? - o morto ou os vivos ou os morto-vivos, como a candidata do PSB à Presidência da República
Por falar nela, agora apareceram as declarações a favor do casamento gay, da laicidade do Estado brasileiro, da liberdade de expressão ou confissão religiosa etc. Marina Silva está fazendo como aquele rei "hungenote" francês: "Paris vale uma missa".  É bem o que ela e seus assessores querem fazer nessa eleição. Não custa fingir ou aparentar que é defensores dos direitos e garantias constitucionais das minorias e da secularização da política. Não há como dar crédito a essas declarações de ocasião. São puros atos retóricos destinados a enganar os indecisos, os que ainda não cristalizaram suas intenções de voto. A mentira já começa pela própria candidatura, que não tem nada a ver com o PSB, com as alianças políticas do PSB, com os acordos do PSB e o programa "entrópico" do PSB.
Quem comprar essa falácia eleitoral, vai descobrir tarde demais que comprou uma adepta do fundamentalismo religioso  por uma cidadã republicana. O Estado de Marina Silva é teocrático e sua constituição é uma leitura dogmática, acrítica da Bíblia. 
Michel Zaidan Filho é historiador, filósofo e professor da Universidade Federal de Pernambuco

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