pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: José Luiz Gomes: Afinal, quem venceu o debate entre os candidatos ao Governo do Estado de Pernambuco?
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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

José Luiz Gomes: Afinal, quem venceu o debate entre os candidatos ao Governo do Estado de Pernambuco?


Por José Luiz Gomes.


Acompanheamos atentamente o debate promovido pelo Sistema Jornal do Commércio de Comunicação, no último dia 16/09/2014, entre os candidatos ao Governo de Pernambuco. Pelas regras do programa, participaram os candidatos Paulo Câmara (PSB), Armando Monteiro (PTB) e José Gomes (PSOL). Confesso que, como muitos eleitores, tinha alguma curiosidade para observar o desempenho do candidato do Palácio do Campo das Princesas. Não apenas pela ausência de traquejo inerente a um burocrata recentemente alçado à condição de candidato, mas, sobretudo para procurar entender como sua assessoria está formulando o “discurso” em torno do que seria um eventual mandato dele como governador de Estado. Não nos decepcionamos. Como previsto, seu desempenho foi fraco.
Os marqueteiros o colocaram numa verdadeira “camisa de força”, fazendo-o repetir um discurso de uma ilha da fantasia, dissociado do mundo real, do cotidiano do eleitor médio. Isso nos remete a outra preocupação: qual o espaço da intervenção da cidadania num contexto como este, “engessado” por uma engenharia institucional perversa, aliada a uma série de manobras escusas, que deixam o eleitor cada vez mais distante de votar movido por suas convicções, adensadas por um debate republicano de alto nível? Com a morte do ex-governador Eduardo Campos, os analistas políticos chegaram à conclusão de que alguma coisa funcionava muito bem em seu Governo: a imagem institucional, que o colocava entre os governantes mais bem-avaliados do país, mas que não resistia, por exemplo, a uma simples checagem dos indicadores de IDH. A vida cotidiana do pernambucano, quando se tomava como parâmetros a educação – apesar do IDEB – a saúde, a mobilidade urbana, o meio-ambiente, essa não ia muito bem.
De há muito, o financiamento de campanhas políticas no Brasil tornou-se um caso de polícia. A maioria dos partidos são meras sopinhas de letras, guiados consoantes arranjos de caráter nada republicanos, orientadas, por vezes, unicamente, em função do recebimento do fundo partidário e negociação do tempo de TV com as legendas maiores, além de outras práticas prostituídas, que preferimos nem mencionar. Os políticos, contingenciados pela Lei de Ferro da Competição Eleitoral (Wanderley Guilherme dos Santos), movem-se consoante uma racionalidade própria, cujas amarras são apenas o pragmatismo, nunca a ideologia ou o perfil programático de suas propostas. Nem pensam duas vezes em mudar de barco se a sua eleição estiver comprometida.  No apogeu da “Onda Marina”, hoje estabilizada, temos informações de que até “petistas” Dianas de Pastoril já estavam tentando entabular algumas negociações com a irmã.
O debate de Terça-Feira foi um bom indicador para observamos essa questão. Gosto muito do bloco que permite abertura às perguntas formuladas pelos ouvintes, talvez um dos poucos momentos de lucidez cidadã do embate, embora não possamos nos iludir quanto a uma possível clivagem dessas perguntas e dos cidadãos que as formulam. Uma dessas perguntas foi sobre a questão do transporte público na cidade no Recife e outra sobre os graves problemas sociais da cidade de Goiana, cidade localizada na Mata Norte do Estado, cujos indicadores de educação, saúde, habitação, saneamento, cuidados com o patrimônio histórico não são nada alvissareiros.
Estão em fase de execução grandes investimentos na cidade, como diversas fábricas de auto-peças, uma montadora da FIAT, a Hemobras, um porto, um aeroporto etc. Além do impacto ambiental, há uma série de outros problemas endêmicos, como o baixo índice de formação escolar e profissional da população, prostituição infantil, abandono do patrimônio artístico, moradias sub-humanas, baixo índice de saneamento etc. Certa vez, ao falarmos nesse assunto, que conhecemos muito bem, entrou no nosso perfil de uma rede social, um grão-mestre neo-socialista para afirmar, equivocadamente, que éramos contra esses investimentos. Não é verdade.
Assim como aquele morador da cidade que formulou a pergunta, estamos, na realidade, preocupados com esses problemas endêmicos, aliás, de longas datas. Ao se reportar ao assunto, ao invés de responder ao cidadão que havia formulado a questão de forma concreta, ou seja, dizer das providências do Estado para combater, por exemplo, os altos índices de prostituição infantil na área, a bandidagem dos grupos de extermínio, o candidato do Palácio do Campo das Princesas limitou-se a repetir um discurso previamente ensaiado que, no fundo, não diz nada. Pura retórica. Uma forma sutil de não responder.
Uma das edições da Revista AlgoMais deste ano, traz uma longa matéria sobre a cidade de Goiana, Mata Norte do Estado. Sou apaixonado por aquela cidade. Na condição de professor, sempre levei grupos expressivos de alunos para conhecer a comunidade quilombola de São Lourenço, localizada num dos distritos do município. Como precisamos de "pontos de apoios" acabamos conhecendo toda a cidade, além da belíssima praia de Pontas de Pedra. Posso falar de cátedra sobre os problemas da cidade, uma vez que os conheço bem.
Além das excursões com os alun@s, frequentei a cidade em muitas outras ocasiões, já com o propósito de conhecer um pouco mais sobre a Fábrica de Tecidos que existiu no município, uma das primeiras instaladas no Estado, se não a primeira, de acordo com alguns historiadores. A matéria traz uma série de referências históricas importantes, como o envolvimento de filhos da terra em movimentos libertários, além do fato de a cidade ter libertados seus escravos antes da assinatura da Lei Áurea. Seria muito importante, entretanto, que, além dos investimentos que estão previstos para a cidade, o poder público, a iniciativa privada e sociedade civil ficassem atentas para alguns problemas nevrálgicos daquela cidade: a) O descaso e o abandono evidente do riquíssimo patrimônio histórico do município. Alguns prédios estão exigindo intervenções imediatas, sob pena de caírem; b) Como se trata de uma área de fronteira entre dois Estados - do lado de cá, Goiana (PE), do lado de lá, Alhandra(PB) - é uma das cidades que apresenta um dos mais alto índices de prostituição infantil; c) Atuando no entorno, sobretudo em Itambé, existem grupos de extermínio muito bem-estruturados, com forte presença no Estado. A morte do advogado Luiz Mattos, ex-assessor do Deputado Federal Fernando Ferro, é atribuída a esses grupos; d) Indicadores sociais básicos, como educação, saúde, habitação, apresentam índices preocupantes; e) Mesmo antes desses investimentos se materializarem, o município já sofre bastante com as agressões ambientais. Na comunidade de São Lourenço, por exemplo, um mega investimento para a construção de uma fazenda de camarão em cativeiro provocou um verdadeiro desastre ambiental nos manguezais, comprometendo a cadeia econômica dos moradores locais, que sobrevivem da captura do caranguejo Uçá e outros crustáceos. Goiana precisa formular urgentemente um Plano Diretor.
A outra questão formulada dizia respeito às tarifas de transporte praticadas no Recife, um problema crucial, que esteve na agenda das manifestações de Junho. Uma questão que se arrasta e que, até hoje, não foi devidamente esclarecido é a transparência sobre as planilhas de custos, o que poderia ser esclarecido se a caixa-preta das empresas de transportes urbanos fosse aberta. Até hoje a população cobra uma transparência sobre o assunto, mas o lobby dos empresários é muito forte e impede que os dados sejam mostrados à população. Sabe-se que a infra-estrutura de mobilidade é precária, temos um transporte público ruim e de alto custo. Mais uma vez, ao se reportar ao assunto, o candidato do Palácio fugiu da resposta, retomando os projetos relativos aos BRTs – que estão atrasados desde a copa e os veículos - com custo estimado próximo a um milhão de reais por unidade – estão se deteriorando nas garagens enquanto aguardam a conclusão dos corredores.
O candidato da oposição, Armando Monteiro, não se pode negar que é uma pessoa muito mais preparada. Afirmo isso não por torcida – o que não seria conveniente nesses comentários – mas por entender que a sua vida pública o credenciou para tal. Diferentemente de Paulo Câmara, Armando sempre esteve na arena política, articulando projetos de investimentos do Governo Federal para o Estado, envolvidos com os bastidores da política nacional. Paulo é um neófito, produzido no laboratório do Campo das Princesas, representante do espólio de um legado político deixado pelo ex-governador Eduardo Campos. Convocado em razão de uma série de circunstâncias políticas específicas, ele não representa, sequer, o grosso do pensamento neo-socialista no Estado. Representa os interesses de uma nucleação específica, que deseja manter o espólio do finado sobre rígido controle familiar.
Zé Gomes, do PSOL, é um bom candidato, tem propostas interessantes, mas ainda precisa percorrer um longo caminho nessa arena. Está se posicionando, construindo um eleitorado politicamente orientado, embora sem chances reais de chegar lá. Não ainda. O pessoal do PSOL lembra, de alguma forma, o que já foi o PT em décadas passadas, ali pelos seus primórdios dos anos 80, um partido orgânico, idealista, propositor de uma linha ética na condução da coisa pública. Cresceu é foi “engolido” pelo establishment. Para um partido como o PSOL, por exemplo, assumir bandeira de defesa da criminalização da homofobia é, não apenas importante, mas convergente sobre o que ele representa no sistema, um partido que propõe mudanças no status quo.
No contexto nacional, nenhum dos grandes, por exemplo, resolveram  assumir esse risco. E não o fazem por razões óbvias. Marina ainda colocou no programa, mas, após a reprimenda de Malafaia, logo tratou de afirmar que se tratava de um “rascunho”, algo que foi desmentido pelo próprio elaborador do programa, ligado ao grupo LGBT. O voto num partido como o PSOL, no momento, é importante para a formação de uma opinião. Pelas últimas pesquisas de intenção de voto divulgadas, as eleições no Estado estão em empate técnico entre os candidatos Paulo Câmara e Armando Monteiro.

 Armando Monteiro, enfrenta uma batalha difícil. Diria dificílima, uma estratégia muito bem urdida, que começou a ser montada por ocasião da morte do ex-governador Eduardo Campos. Ainda um dia, daqui a uns 10 anos, talvez venhamos a saber quem está por trás disso. Por enquanto, os mentores estão na moita, na surdina, apenas saboreando os resultados até aqui alcançados. Num curto espaço de tempo, o candidato palaciano obteve uma subida vertiginosa nas pesquisas. Armando Monteiro chegou a abrir mais de trinta pontos sobre ele. Uma grande especulação que se faz – que certamente ficará sem resposta é: se Eduardo estivesse vivo, sua performance seria a mesma? Aliás, é quem foi que disse que Eduardo morreu? Ele continua vivo, pedindo votos para o seu candidato, aparecendo nas inserções publicitárias na legenda neo-socialista, comovendo o eleitorado.
No circuito acadêmico existem disputas acirradas. Ora orientadas pelo viés político, ora orientadas pelo viés metodológico, no sentido de fortalecer determinadas tendências de análises. Soma-se a isso, as disputas de vaidade, essas sim, as mais complicadas. Quando alguém no grupo se sobressai, pode esperar a rebordosa, quase sempre, numa perspectiva de desacreditar o sujeito ou suas ações o que, no fundo, é a mesma coisa. Há muito tempo acompanho um analista pernambucano que não costuma se comprometer, emitindo análises - segundo ele, desapaixonadas - sempre no sentido de que "ainda é cedo para se tirar qualquer conclusão'; "o candidato "A", pode vencer, assim como o candidato "B" pode vencer", “ se o candidato “A” vencer, obviamente o candidato “B” perde” as eleições. "isso que fulano está fazendo não é análise, mas torcida". Ora, você afirmar que numa disputa entre dois candidatos ambos podem vencer, convém ficar calado.  Essa pessoa se coloca como o grande oráculo da ciência política no Estado, se arvorando como o único capaz de fazer análises isentas, desprovidas de paixões. Fica na moita, nunca se arrisca, mas está cercado de atores políticos ligados ao grupo político do ex-governador Eduardo Campos. Parece estar se desenhando no Estado uma articulação muito difícil de ser combatido, capaz de mover montanhas, quanto mais interferir nos resultados de uma eleição: a) Institutos de pesquisas, meios de comunicação de massa; b)máquina estadual e municipal a moer em torno de uma candidatura que se utiliza, inclusive de um cabo eleitoral já falecido; c) torcida explícita no momento das ponderações analíticas sobre o pleito. Para completar o circuito, o tal indivíduo ocupa os espaços escancarados das rádios, jornais e redes sociais para alardear que o tal candidato será o vencedor do pleito, num rito previamente combinado, onde sua torcida, no momento, parece indisfarçável. Ainda bem que os comentadores mais sensatos perceberam a armação e as suas contradições, cobrando dele afirmações recentes sobre o mesmo tema. Ninguém é bobo, senhor cientista político das escolhas racionais... talvez as suas.
 

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