pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Michel Zaidan Filho: A metamorfose
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quinta-feira, 29 de maio de 2014

Michel Zaidan Filho: A metamorfose


 

É natural que os políticos, em plena campanha eleitoral, mudem e produzam atos retóricos destinados a classes de eleitores especiais (os empresários, os militares, os religiosos etc.). Mas, a operação eleitoreira tem limites quando ofende à consciência democrática e aos direitos de centenas de famílias que tiveram seus parentes chacinados pela ditatura militar, e ainda hoje aguardam uma resposta oficial sobre  o paradeiro deles. O que estamos assistindo nesses dias é um verdadeiro festival de oportunismo político por parte de certo candidato, com o fim de agradar aos militares e os empresários do agro-negócio.
                         É inconcebível (e uma falsificação da história) dizer que a anistia permitida pela ditadura militar no Brasil foi ampla e irrestrita. É tão falsa e mentirosa a declaração que se choca com o fato de que o último preso político (o filho de Nelson Rodrigues) ter sido solto, bem depois da lei da anistia, e pelo fato de o pai está agonizando. Ele que tanto pediu aos militares pela soltura do filho, Nelsinho. Pior é a ofensa à memória dos bravos militantes que lutaram pela caráter amplo e irrestrito da anistia e foram derrotados. Admitir, por puro oportunismo, que a anistia foi ampla e irrestrita e ser contra a reabertura dos processos contra os agentes do Estado que cometeram crimes contra a humanidade e os direitos humanos, é uma flagrante contradição com a medida que criou as Comissões pela Verdade e a Justiça, mesmo que tenha sido feita para agradar aliados e ex-inimigos, como aconteceu em Pernambuco.
                          Das duas, uma: ou o candidato se coloca ao lado dos militares e daqueles que acham que houve uma guerra no Brasil e a violência exercida pelos agentes do Estado foi justa e não há o que apurar ou informar; ou ele se coloca ao lado da sociedade civil brasileira que quer, exige, clama  por justiça e verdade sobre o que aconteceu durante os anos de chumbo. Não dá é para ficar no meio-termo, agradar aos militares e aos familiares das vítimas da ditadura militar.
                           Se o atual candidato e ex-governador tivesse algum familiar seu ou amigo chacinado  pelo regime de exceção, ele não agiria desta forma. Pelo contrário, a sua família e seus amigos hoje desfrutam de todo prestígio e regalias  próprias das famílias reais. Mas a maioria das famílias plebéias que não contam com as benesses do poder e dos aduladores de sempre, esperam - na chuva e no sol - pela plena reparação dos crimes cometidos em nome das famigeradas "razões de estado", contra seus parentes e amigos.
                          Talvez esteja na hora de se iniciar no Brasil e em Pernambuco um novo movimento pela  reparação desses crimes. E os democratas de ocasião terão que retirar suas máscaras e assumir suas verdadeiras identidades.
Michel Zaidan é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco. 

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