pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Casos em que o resgate de "bandidos" pela PM desmonta a cena do crime
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quarta-feira, 19 de março de 2014

Casos em que o resgate de "bandidos" pela PM desmonta a cena do crime

publicado em 18 de março de 2014 às 16:05
Morte na Brasilândia from Luiz Carlos Azenha on Vimeo.
por Luiz Carlos Azenha
Voltei à casa de Duda, o jovem de 20 anos morto na região da Vila Brasilândia, em São Paulo (ver reportagem acima, feita na época). Mais de um ano e quatro meses se passaram e não houve qualquer resultado da investigação. Ninguém explicou, por exemplo, porque a PM paulista desfez a cena do crime, se Duda estava morto. O corpo foi retirado e colocado em uma viatura. A família não sabe a quem atribuir o assassinato, já que Duda nunca teve qualquer tipo de envolvimento com drogas ou passagem pela polícia e estava numa esquina vendo o movimento. A desconfiança de vizinhos é de que policiais à paisana tocaram terror no bairro, numa guerra surda contra o crime organizado.
Meses depois, o secretário de Segurança chegou a proibir a remoção de corpos pela PM paulista, aparentemente numa tentativa de impedir a farsa dos “autos de resistência”. Remover corpos, plantar provas e inventar versões. De onde vem isso? Ah, da ditadura militar, não é mesmo? O pai de Ivan Seixas, que morreu sob tortura no DOI-CODI paulista, teve a morte simulada num tiroteio. Já o deputado Rubens Paiva, segundo a ditadura, foi sequestrado quando dirigia o próprio automóvel (na verdade foi morto sob tortura em instalações militares). É parte do que resta da ditadura por aí.
18/03/2014 07h37 – Atualizado em 18/03/2014 15h28
‘Acharam que ela era bandida’, disse filha de arrastada por PMs no Rio
Thais Lima foi ao estúdio do Bom Dia Rio nesta terça-feira (18).  Cláudia Silva Ferreira foi arrastada por carro da PM após ser baleada.
Thaís Lima, filha de Cláudia Silva Ferreira, que foi arrastada por um carro da PM na manhã deste domingo (16) após ser atingida por uma bala perdida no Morro da Congonha, em Madureira, no Subúrbio do Rio, disse que os policiais que estavam no local acharam que Cláudia tivesse envolvimento com o tráfico de drogas. Thaís foi ao estúdio do Bom Dia Rio na manhã desta terça-feira (18) para contar como tudo aconteceu. Ela disse que não acredita na Polícia Militar. Auxiliar de serviços gerais, Cláudia tinha 38 anos, era mãe de quatro filhos e criava quatro sobrinhos.
“Foi só virar a esquina e ela deu de frente com eles. Eles [os policiais] deram dois tiros nela, um no peito, que atravessou, e o outro, não sei se foi na cabeça ou no pescoço, que falaram. E caiu no chão. Aí falaram [os policiais] que se assustaram com o copo de café que estava na mão dela. Eles estavam achando que ela era bandida, que ela estava dando café para os bandidos”, contou.
Segundo Thaís, os moradores tentaram impedir que a polícia levasse Cláudia do local. No tumulto, policiais teriam atirado para o alto para afastar as pessoas. Ainda segundo ela, o porta-malas do carro da PM que levou Cláudia abriu uma primeira vez na Rua Buriti, logo após o socorro feito pelos PMs.
“Um pegou ela pela calça e outro pela perna e jogou dentro da Blazer, lá dentro, de qualquer jeito. Ficou toda torta lá dentro. Depois desceram com ela e a mala estava aberta. Ela ainda caiu na Buriti [rua, em Madureira], no meio do caminho, e eles pegaram e botaram ela para dentro de novo. Se eles viram que estava ruim porque eles não endireitaram (sic) e não bateram a porta de novo direito?”, questionou.
A filha da vítima contou que trocas de tiros são comuns no Morro da Congonha, mas que o episódio que tirou a vida de sua mãe foi atípico, já que, segundo ela, não houve confronto com traficantes e os policiais militares teriam chegado na comunidade atirando.
“Lá é quase sempre assim, mas dessa vez ninguém entendeu nada a atitude deles, de chegar atirando assim, na rua. Não teve troca de tiros”, explicou.
Thaís comentou também a diferença de postura no socorro da sua mãe e de um outro baleado na mesma situação. Segundo ela, o corpo do homem atingido na suposta troca de tiros permaneceu no local esperando a perícia, enquanto Cláudia foi levada para o hospital.
“Se matou ela, como se fosse bandida, por que deixaram o outro na rua? O corpo dele ficou lá, esperando a perícia. Eles levaram a minha mãe igual a um louco (sic)”, questionou ela, que disse querer justiça na resolução do caso que matou sua mãe.
“Eu quero justiça e que eles paguem o que eles fizeram com a minha mãe”, finalizou.
PMs ‘riram’, disse filha
Durante a entrevista, Thaís citou o momento em que os policiais riram após a troca de tiros. “Todos eles que estavam lá em cima [na ação da PM], estavam lá embaixo [na manifestação na Avenida Edgard Romero, no domingo]. Eles estavam rindo e eu fui perguntar para eles: ‘Minha mãe trocou tiro com vocês, minha mãe é bandida? Cadê a arma? Eles ficaram quietos’”, contou ela, que disse ter sido segurada pelos amigos para não enfrentar os agentes.
Beltrame repudia conduta dos PMs
O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, disse por meio de nota nesta segunda-feira (17) que repudiou a conduta dos policiais que fizeram o resgate de Cláudia. Ele informou que, além do inquérito Policial Militar instaurado, a Polícia Civil também investiga o caso.
Os subtenentes Adir Serrano Machado e Rodney Miguel Archanjo e o sargento Alex Sandro da Silva Alves foram presos em flagrante e serão julgados pela Auditoria de Justiça Militar após a conclusão do Inquérito Policial Militar (IPM), que tem prazo de 30 dias para ser finalizado. O resultado da perícia realizada pelo Centro de Criminalística da PM será anexado ao documento. Eles serão encaminhados a Bangu 8, no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste, após o término dos depoimentos.
A Polícia Militar informou, em nota, que a conduta de levar a vítima no porta-malas não condiz com as orientações do curso de formação da corporação. Segundo a PM, o procedimento correto quando há possibilidade de socorro para baleados é instalar a vítima no banco traseiro do veículo.
Testemunhas contaram que Cláudia foi colocada no porta-malas do carro da polícia para ser levada ao hospital. No entanto, durante o trajeto, o porta-malas abriu e a auxiliar de serviços caiu, sendo arrastada pela rua.
Moradores da comunidade também acusam os policiais que participaram da ação de armar um falso flagrante. Segundo relatos, os PMs teriam plantado armas ao lado do corpo do segundo suspeito morto na operação. No domingo e nesta segunda-feira, moradores de Madureira fizeram manifestações contra a morte de Cláudia.
PMs afastados
“Lamentamos muito a forma como a senhora Cláudia foi socorrida, é uma forma que nós não toleramos. A corporação não compactua com isso. Por essa razão, eles estão sendo autuados e serão conduzidos à unidade prisional”, afirmou o relações-públicas da PM, tenente-coronel Cláudio Costa em entrevista à GloboNews. “O ideal era que ela fosse no banco de trás, amparada por um policial. O que não aconteceu”, acrescentou Costa, referindo-se à forma como a vítima foi socorrida.
O jornal Extra publicou nesta segunda-feira o vídeo feito por um cinegrafista amador que mostra a mulher sendo arrastada por cerca de 250 metros. Cláudia teria ficado pendurada no para-choque do veículo apenas por um pedaço de roupa.
Resposta da PM
Em nota, a PM disse que Cláudia da Silva Ferreira foi colocada no porta-malas do carro e no caminho do hospital a porta se abriu. Foi nesse momento que parte do corpo da moradora acabou sendo arrastado pela rua, provocando mais ferimentos. O comando da PM afirmou que este tipo de conduta não condiz com um dos principais valores da corporação que é a preservação da vida e da dignidade humana.
A Polícia Militar informou ainda que os policiais encontraram Cláudia já baleada no alto do morro. Ela ainda foi levada para o Hospital Estadual Carlos Chagas, mas não resistiu.
Segundo a PM, na operação em Madureira, um traficante foi morto e outro foi ferido e preso. Os policiais apreenderam quatro pistolas, rádios e drogas na comunidade. A Polícia Civil vai investigar de onde partiram os tiros.
Para a família, a dor se mistura à indignação. “A sensação é que no morro, na favela, só mora bandido, marginal. Insegurança, somos tratados como animais”, diz um amigo de Cláudia.

(Publicado originalmente no site Viomundo)

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